segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

3º Ano :: 1º Bim :: Aula 2 e 3 :: René Descartes e o advento da Subjetividade (Sujeito) pela dúvida.


1. Lembrando um pouco sobre o sujeito...



Ouvimos muito falar em sujeito e objeto. Essas duas palavras estão sempre presentes nos discursos científicos, quando lemos algo:"e o objeto de pesquisa dos biólogos são os seres vivos". A ideia é a de que um objeto para ser compreendido e conhecido ele necessita de um sujeito, pois como vimos antes, é o sujeito quem dá sentido ao objeto e não o contrário, ou seja,  sem o sujeito que pensa e que tem as ferramentas de compreensão não haveria objetos (qualquer coisa) da forma como conhecemos hoje ou seja, com um nome, um sentido e suas características. Haveria apenas a coisa em si, presa nela mesma.

2. Descartes e a origem do Sujeito

O sujeito do conhecimento iniciou sua presença no mundo desde há muito tempo quando lançou suas interpretações míticas com o intuito de dar sentido ao mundo em sua volta. Ocorre que só no Século Dezessete, com René Descartes (se pronuncia Renê Decártes) é que o sujeito ganhou autonomia. Como assim autonomia ? É que nada garantia se esse sujeito existia ou não, se ele não existisse e se fosse tudo um sonho, logo tudo o que esse sujeito aprendesse do mundo ao redor também não existiria. Contudo, se o sujeito for real, então aumentam as possibilidades de seu conhecimento   ser real também. Ao concluir:" Penso, logo existo" Descartes garante não só o sujeito enquanto verdade mas também tudo aquilo que pensa, pois aprendemos com o filósofo que é o pensamento que garante a verdade das coisas. Mas vejamos como ele chegou a isso.

3. A dúvida cartesiana e suas consequências




Como dissemos acima, René Descartes nos ensina que o pensamento é o que garante a existência das coisas.  Ele chegou a essa conclusão a partir da seguinte postura:

Não aceitar como verdadeiro o conhecimento da tradição medieval, geralmente pautado na fé absoluta ou pela autoridade da Igreja. Era necessário um saber sólido que se sustentasse por si só, ou seja, uma verdade racional a qual ninguém duvidasse. Para isso ele adotou um método baseado em um ceticismo  radical*, algo que, por um determinado espaço de tempo,  duvidasse da existência de tudo para que ele então pudesse compreender se algo ainda assim iria resistir.

Desta forma, ele propõe alguns argumentos para consolidar seu método cético.


São eles:

a) Dúvida dos sentidos: onde devemos duvidar de todas as coisas o que os nossos sentidos (visão, olfato, audição, tato, etc)  nos informam e revelam sobre o que está ao nosso redor (objeto);

b) Dúvida dos sonhos: onde devemos duvidar do que realmente é realidade, considerando a possibilidade de a própria realidade ser um sonho;

c) Dúvida do Gênio Maligno ou Deus enganador: devemos duvidar se Deus realmente quer que encontremos a verdade, ou seja, Deus poderia não ser bondoso, mas  sim um ser  maligno que estaria nos enganando a cerca da verdade de modo que tudo que o nosso pensamento julgue verdadeiro seja falso.


Assim,  Descartes conclui que: se  nada do que  é visto ou sentido é verdadeiro, se nada na realidade pode ser de fato real e tudo que for feito diante desse real irá nos conduz ao erro, logo deve-se duvidar de tudo. Contudo, ao se duvidar de tudo, resta uma única coisa a qual não se pode duvidar:  de que se duvida.

Assim, "após este processo, Descartes chegou a uma conclusão: “Cogito, ergo sum”. Que significa: “Penso, logo existo”. Descartes entendeu, após passar pelos estágios de dúvida que a única coisa da qual ele não duvidava era da sua própria dúvida, assim entendeu que nem mesmo o possível Gênio Maligno poderia enganá-lo quanto a isto. Então ele percebeu que se ele dúvida, ou seja, se ele pensa que dúvida, logo ele está vivo, por tanto existe. Afinal não podemos duvidar da nossa própria dúvida. Você duvida da sua dúvida? "1

SE DUVIDO,  PENSO (a dúvida é um pensamento) SE PENSO, ENTÃO EXISTO!

Essa conclusão é revolucionária pois até então o sujeito estava preso ao próprio mundo confundindo-se com o objetos ao redor. Então, desta forma, o mundo ao nosso redor é real porque ele pode ser pensado. Os sentidos continuam sendo falhos, mas o pensamento os corrige. O ato de pensar é o que dá sentido a tudo e se houvesse a ausência do pensamento, não haveria nada, pois o que difere o sujeito do objeto é justamente essa capacidade de pensar de modo que agora não há dúvidas de que o sujeito de fato existe.


E como fica  Deus depois dessa certeza proposta por Descarte? A certeza de que eu existo a partir do meu pensamento?

O argumento de Descartes não só prova a existência do sujeito como também prova a existência de Deus além de livrá-lo da ideia de que ele é enganador e mal. Uma vez que se o ato de pensar é o que garante a minha existência e das demais coisas, conclui-se que quem me criou (Deus) só pode ser alguém bom, pois alguém ruim não nos criaria com a capacidade de pensar.



_________________________________________________________________________________
Questões do ENEM











Enem 2013 Questão 1



TEXTO I

Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto. Era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente a fim de estabelecer um saber firme e inabalável.
DESCARTES, R. Meditações concernentes à Primeira Filosofia. São Paulo: Abril Cultural, 1973 (adaptado).

TEXTO II
É o caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo de busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí terá sido de alguma forma gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma daquelas que foram anteriormente varridas por essa mesma dúvida.
SILVA, F.L. Descartes. a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado).
A exposição e a análise do projeto cartesiano indicam que, para viabilizar a reconstrução radical do conhecimento, deve-se
  1. Aretomar o método da tradição para edificar a ciência com legitimidade.
  2. B
    questionar de forma ampla e profunda as antigas ideias e concepções.
  3. C
    investigar os conteúdos da consciência dos homens menos esclarecidos.
  4. D
    buscar uma via para eliminar da memória saberes antigos e ultrapassados.
  5. E
    encontrar ideias e pensamentos evidentes que dispensam ser questionados.

resolução

De acordo com René Descartes, o processo de formação do conhecimento dà-se a partir do método chamado por ele de ceticismo metodológico. Este consiste do pressuposto da dúvida de que um saber só pode ser reconhecido se puder ser provado. Dessa maneira, para se chegar à raiz do saber, será necessário questionar todas as ideias e pressupostos começando do zero. Só  assim, será alcançado o conhecimento verdadeiro e puro.
__________________________________________________________________________________

Questão 02
(Fepese – SC– 2012) René Descartes tornou-se famoso pela frase “Cogito, ergo sum” (penso logo existo), pilar fundamental da filosofia:
a) Racionalista.
b) Fenomenológica.
c) Teocêntrica.
d) Empirista.
e) Liberal.

__________________________________________________________________________________
Questão 03
(Fundação Carlos Chagas – SP – 2010). No Discurso do Método, René Descartes buscou estabelecer os procedimentos que asseguram a verdade das investigações científicas. Ele propõe quatro regras de conhecimento que seriam acessíveis a todos os homens que fazem uso de sua luz natural, quer dizer, da razão. Tais regras, que também seriam capazes de pôr abaixo todo pensamento dogmático e confuso produzido pela escolástica medieval, são:
a) As quatro regras matemáticas:
1. polinomiais; 2. algébricas; 3. aritméticas; 4. geométricas.
b) Os quatro princípios clássicos:
1. o princípio de não contradição; 2. o princípio do terceiro excluído; 3. o princípio do fundamento; 4. o princípio de identidade.
c) As quatro regras do método geométrico euclidiano.
d) As quatro regras do método científico:
1. Jamais aceitar algo como verdadeiro que não seja evidente. 2. Dividir as dificuldades em tantas partes quanto possível e necessário. 3. Começar pelo mais elementar e passar aos poucos ao mais complexo. 4. Fazer enumerações e revisões do conhecimento adquirido.
e) As quatro regras do Órganon aristotélico.
______________________________________________________________________________ 
Questão 04
(VUNESP – 2009) “Penso, logo existo” significa que
a) Minha alma pensa.
b) Meu corpo pensa.
c) Minha alma sente.
d) Meu corpo sente.
e) Meu corpo existe.

___________________________________________________________________________
 ATIVIDADE


QUESTÕES:

1. Porque o exercício da dúvida realizado por Descartes é conhecido como “dúvida metódica?
2. Por que Descartes não aceitava o saber da tradição anterior a ele?

3. Qual é a primeira certeza que rompe com a dúvida metódica? Explique como o filósofo chegou até ela.
4. Qual a o posicionamento adotado pelo filósofo para iniciar sua investigação?
5. Como era a noção de sujeito antes e depois de Descartes?

6. Enfim, Descartes prova ou não a existência de Deus a partir da sua constatação?



* Vale lembrar que Descartes não era cético, ele apenas adotou o ceticismo como método para chegar às suas conclusões. Muitos não compreendem isso e acabam julgando o filósofo de forma equivocada.

1. http://blogdoenem.com.br/descartes-e-duvida-filosofia-enem/

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

1º ano :: 2º Bim :: Uma breve abordagem sobre as Falácias

O que são falácias ?


São falsos argumentos que aparentam ser verdadeiros cujo  objetivo é convencer o interlocutor ou as pessoas ao redor que assistem como platéia a aceitarem como verdade algo que não é.

 


Onde ocorrem as falácias ?

Onde houver debates com ideias diferentes ou seja, em todo lugar onde  a partir do uso de argumentos é possível se obter uma conquista ou uma vantagem contra o adversário.
 
Por exemplo, alguém pode usar de falsos argumentos para convencer o técnico de um time a tirar determinado jogador e colocar outro em seu lugar. Se o técnico não for competente o suficiente e se deixar levar por argumentos falsos, ele será facilmente convencido.

Outro lugar onde as falácias são utilizadas é dentro de casa mesmo, quando você usa argumentos falsos  com seus pais para justificar o porquê de você não ter ajudado a lavar a louça, não ter arrumado o quarto ou mesmo  não ter tirado boas notas. Muitas pessoas ao invés de assumirem seus erros ou assumirem que não dominam determinado assunto preferem usar falácias para não saírem como perdedoras. 


Sempre existem falácias em debates?
 
Quase sempre, porém isso depende muito do tipo de debate que está ocorrendo. Isso porque há debates que realmente ocorrem em prol do conhecimento, onde os agentes envolvidos trocam informações e aquele que tem informações mais corretas e verdadeiras acaba por ajudar o outro que está despreparado. Logo, esse tipo de debate - que podemos chamar de debate pró verdade, ou amistoso e saudável - não utiliza falácias pois o objetivo maior é o conhecimento (onde todos saem ganhando) e não a vitória de um interlocutor frente ao outro. Esse tipo de debate é mais raro, pois no geral os debates não são amistosos.  



Quem pratica falácias ?

Todos nós somos seres falaciosos em potencial, obviamente há pessoas que utilizam isso como estilo de vida e outras que usam uma ou outra falácia de vez enquando. De um modo geral há áreas do saber cujo ambiente propicia mais o uso de falácias, tais como o Direito e a Política, o que não quer dizer que são áreas só de gente mentirosa. Alguns religiosos também utilizam deste artifício para convencer a grande maioria a aceitar o que está sendo dito.

Existem quantos tipos de falácias ?

Mais de trinta, porém aqui vamos apresentar apenas dez tipos, as mais conhecidas e mais utilizadas nos dabates públicos assim como meios de de defender delas. Vamos lá:



1. Falácia ataque ao adversário (ad hominem)

Quando na ausência de argumentos durante um debate você passa a atacar seu adversário no que diz respeito à sua vida pessoal. Exemplos:


 Em um debate sobre família um dos debatedores, já sem argumentos, ataca o outro da seguinte forma:

"Sim, você deve se calar neste assunto afinal você é filho de pais separados, logo nada do que você disser é confiável."


Outro exemplo:

"Não é seu pai que é um alcóolatra de carterinha? Acho que ninguém aqui deve acreditar no que você diz"
 
Defesa: Para se defender contra um ataque de falácia ad hominem, basta você chamar atenção do seu adversário de que ele está mudando o foco do debate ao atacar você e não suas ideias. No caso de haver platéia, mostre a ela que seu adversário perdeu seus argumentos ou não tem conhecimento sobre o assunto debatido, tanto que partiu para o ataque pessoal.
 


2. Espantalho
 
Quando um dos debatedores não tem conhecimento sobre um tema que está sendo debatido e, temendo que sua incompetência seja percebida pelo público, ele então passa a falar sobre outra coisa aparentemente igual e mais fácil de ser criticada. É quando deturpam  (alteram de propósito) o que você disse para passar a impressão de que se tem conhecimento sobre esse assunto. Por exemplo: 

Tema do debate: Educação sexual
 
Debatedor 1: Precisamos falar sobre educação sexual para os jovens de modo que eles possam obter informações sobre os riscos de gravidez precosse e de doenças sexualmente transmissíveis, pois os dados estatísticos mostram uma situação preocupante. 
 
Debatedor 2: Você realmente está propondo que se fale sobre sexo para jovens em sala de aula sem se preocupar com as consequências disso na vida deles ? A pornografia é a causadora disso tudo, de todos esses problemas, pois ela estimula a prática sexual. E você tem a coragem de propor um absurdo desses? Falar sobre pornografia em sala de aula ? Que absurdo ! Vocês estão vendo isso gente?!

Ao igualar "educação sexual" com "pornografia" o Debatedor 2 usou uma falácia de espantalho (alterou o objeto do debate), pois em nenhum momento o Debatedor 1 falou em pornografia ou algo parecido, ao contrário, seu objetivo é esclarecer sobre vida sexual saudável. 

Defesa: Para se defender contra um ataque de falácia espantalho, você precisa chamar atenção do seu adversário de que ele está mudando o foco do debate ao questionar uma coisa diferente do que você disse. No caso de haver platéia, mostre a ela que seu adversário perdeu seus argumentos ou não tem conhecimento sobre o assunto debatido, tanto que mudou o objeto do debate para algo mais fácil de ser criticado, ou seja, trouxe o conteúdo para sua zona de conforto.

 
3. Tu quoque (tu também)
 
Esta falácia pode ser considerada uma variação da falácia ad hominem, pois quando um dos debatedores não quer debater um determinado assunto que de certa forma expõe seus erros e equívocos, este então tenta inverter o foco da crítica para o outro debatedor que lhe questiona trazendo para o debate pontos críticos relativos ao outro que não estavam em discussão. Este tipo de falácia é muito comum em conversas entre duas pessoas ou reuniões profissionais, mas também podem ocorrer em situações de debates públicos . Exemplo:


Um casal de namorados decide se reunir para discutir a relação. Na ocasião, o costume do namorado de passar boa parte do seu tempo livre jogando video game se tornou objeto de crítica da namorada, basicamente ela estava reclamando por mais carinho e atenção. O namorado, ao invés de acolher as críticas, então usa a falácia tu quoque, dizendo algo como: "E tu? que não lava nem as louças da tua casa". Essa resposta, completamente fora do foco da discussão (excesso de jogatina) , demonstra que o namorado não quer tocar no assunto pois ele sabe que seus argumentos serão fracos diante dos dela.


Defesa: É essencial que se faça uma rápida pausa neste debate para que nela possa se mostrar que todos os demais assuntos podem ser debatidos, mas depois que o assunto presente seja debatido até o fim ou até que seja feito um novo acordo. Usar o "tu também" é um meio eficaz de fuga, mas que pode ser facilmente neutralizado trazendo o tema original de volta para o centro do debate.  
 
 
 
4. Anacronismo
 
Quando o debatedor utiliza um recurso válido no presente para refutar (ou mesmo destruir) uma ideia do passado, como se os mesmos parâmetros de agora pudessem ser aplicados antes sem problemas, ignorando completamente o contexto histórico da época. Por exemplo:

Debatedor 1 "A democracia surgiu na Grécia há dois mil e quinhentos anos e vem sofrendo mudanças desde aquela época até os dias atuais"

Debatedor 2 "A democracia é péssima hoje pois já nasceu machista, já que na Grécia as mulheres não podiam votar"

 

Defesa: Neste caso cabe o debatedor esclarecer que o contexto do passado era diferente do contexto presente, e que não faz sentido subjulgar um a partir do outro. Assim, o voto feminino resultou da própria evolução democrática ao longo dos séculos. É como comparar a performance de uma carroça com a de uma Ferrari enquanto há séculos de evolução tecnológica entre ambas. 
 
 
 
5. Falácia de apelo à tradição (anacronismo inverso)

Quando eu quero convencer alguém de que o que era feito antes era necessariamente melhor. Esse tipo de falácia atribui ao passado uma época sempre melhor do que o presente, e consequentemente tudo o que era feito no passado era melhor.  Um exemplo para ilustrar:


"Na minha época, quando os militares governavam,  o Brasil era muito melhor, não havia essa falta de vergonha na cara que vemos hoje."

Outro exemplo:

"Na minha época as mulheres eram melhores que as de hoje"


Defesa: Parecida com a falácia anterior, o apelo à tradição se apega a um passado glorioso sem no entanto considerar as limitações que haviam antes. É fácil, por exemplo, alegar que antes se vivia melhor porque havia menos poluição e criminalidade e ignorar, propositalmente,  que antes também havia mais pobreza, menos empregoa, menos tecnologia, etc. O debatedor deve se defender mostrando que não é possível concluir com precisão se uma época era de fato melhor que a outra já que essa é uma afirmação subjetiva. Apenas com dados comparativos de épocas diferentes é que é possível concluir algo nesta direção. 


 
6. Falácia de apelo à autoridade

Quando utilizamos o nome de alguma celebridade, seja ela do meio artístico, político, esportivo ou científico para dar um ar de "verdade" à nossa fala com intenção de convencer alguém. Exemplos:

"Se Aristóteles disse isso, então é verdade."

"Pelé disse para o povo se calar durante a Copa, se ele pediu isso, então vamos nos calar, afinal é o Pelé."

"Einstein disse que Deus existe, logo ele existe."

Há uma variação desta mesma falácia, quando se utiliza uma autoridade sem no entanto citar quem é, por exemplo. 

"Especialistas dizem que a Copa será um fracasso".  

Quem são esses especialistas ?? 

Ou

"Historiador disse que o Brasil nunca vai prosperar porque quando foi colonizado só vieram os ladrões de Portugal pra cá, então é um país corrupto desde sua origem ."  

Que historiador é esse ?
 
Defesa: Questionar se tal autoridade citada realmente afirmou algo pode parecer a defesa mais apropriada, porém não é. O melhor a ser feito em um caso como esses é tornar claro para todos que seu adversário está fazendo uso de personalidades para benefício próprio se aproveitando do peso do nome delas sem que haja como provar se é verdade ou não.
 
 
 
7. Falácia de apelo à força

Quando na ausência de argumentos você faz uso da sua força física ou da sua posição de poder dentro de determinada hierarquia para convencer o outro a seguir sua vontade. Exemplos:


"Ou você faz do meu jeito ou vai ser demitido"

"Se você não aceitar o meu verdadeiro amor eu vou lhe quebrar a cara!!"

 
 Defesa: Neste tipo de situação o melhor é acionar alguma autoridade competente, já que esse tipo de falácia vem acompanhada quase sempre de uma ameaça ou de uma situação vexatória que põe em risco a integridade física e moral da pessoa atacada.
 
 
 
 
 
8. Falácia de apelo à emoção
 
Quando o debatedor fica sem argumentos e utiliza recursos que emocionem a platéia de modo que faça com que a mesma não perceba sua incompetência. Ela se parece com a falácia de Espantalho, mas com um forte toque emotivo Por exemplo:

Debatedor 1: Vossa excelência precisa esclarecer à população o que fez com o dinheiro público que havia sido destinado à compra de merenda escolar mas desapareceu.

Debatedor 2: Vejam minha gente! Meu adversário não considera que eu estive doente! Que mês passado eu perdi minha mãe e meu irmão para esse vírus maldito que levou a vida de milhares de outros brasileiros. Meu adversário é um homem insensível!  Não considera o que eu passei nos ultimos meses e vem aqui me acusar em público!

Defesa: A primeira coisa que deve ser feito em uma situação como essa é separar a vida pública da vida privada do adversário falacioso. Basicamente, neste exemplo,  dizer que lamenta pelos problemas ocorridos na vida particular, mas que não está lá para discutir isso e sim as responsabilidades assumidas publicamente.
 
 
 
9. Falácia de apelo ao número (mesmo que apelo ao povo)

O número aqui se refere ao povo, à quantidade de pessoas envolvidas em determinado contexto. Aí você utiliza isso como argumento para convencer alguém a agir como a maioria está agindo. Exemplos:

"Amiga, todo mundo vai pra Parintins quem não for está por fora."

"Um monte de gente fuma maconha, eu vou fumar também"

"Fulano é corrupto, mas se todo mundo votar nele eu voto também"
 
 
 
 Defesa: Lembrar ao debatedor falacioso e para a platéia que o critério quantitativo não garante absolutamente nada no que diz respeito à decisões estritamente individuais.  Não há garantias reais de que a vontade da maioria é necessariamente a melhor opção a ser seguida.
 

10. Falácia Non Sequitur (não se segue)

Em um non sequitur, a conclusão pode ser verdadeira ou falsa, mas o argumento é falacioso porque há falta de conexão entre a premissa inicial e a conclusão. Por exemplo:

 Debatedor 1: Pessoas morreram  de câncer na boca e na garganta bem antes de o cigarro ser inventado...

Debatedor 2: Você está certo neste ponto, mas e então?

Debatedor 1:Então eu posso concluir que o cigarro não causa câncer... 

 

Outro exemplo...

 
 Debatedor 1: a grande maioria das pessoas usa e gosta de celular


 Debatedor 2: sim, é verdade...concordo


 Debatedor 1: Se eu comprar um celular elas vão gostar de mim também

 Debatedor 2: 😟😟😟



 Defesa: Mostrar que o conteúdo da conclusão não tem conexão como o que foi dito antes, ou seja, mostrar que uma coisa não tem nada a ver com a outra



Conclusão

Enfim, sempre que alguém tentar convencer você de algo, veja se essa pessoa está utilizando argumentos verdadeiros. Como dito antes, tentar convencer não é algo ruim, desde que seja algo baseado em verdades e não em falsas verdades ou mesmo mentiras. Você mesmo se for tentar convencer alguém, tente fazer isso utilizando argumentos verdadeiros ou pelo menos próximos disso, caso contrário você estará sendo falacioso e a falácia, assim como a mentira, pode ser evidenciada a qualquer momento.


terça-feira, 11 de agosto de 2020

1º ano (aula 4) :: Conhecimento Comum (Atividade)

O conhecimento comum (ou senso comum)
O senso comum ou conhecimento espontâneo é a primeira compreensão do mundo, baseada na
opinião, que não inclui nenhuma garantia da própria validade. Para alguns filósofos, o senso comum
designa as crenças tradicionais do gênero humano, aquilo em que a maioria dos homens acredita ou
devem acreditar.

A mais completa tradução do senso comum talvez sejam os ditados populares. A título de exemplo,
eis alguns:

"Cada cabeça, uma sentença."
"Quem desdenha quer comprar."
"Quem ri por último ri melhor."
"A pressa é a inimiga da perfeição."
"Se conselho fosse bom, não era dado de graça."
A atitude natural perante o mundo produz, a part ir das experiências vividas pelos homens, um tipo particular de conhecimento geralmente designado por Comum. Este é o modo comum e corrente do conhecimento humano que se adquire no contato direto com a realidade. Assim, o conhecimento comum é este saber empírico e imediato que adquirimos espontaneamente sem nenhuma procura sistemática ou metódica e sem qualquer estudo ou reflexão prévia.
Opiniões sobre aquilo e sobre isso: todos têm suas opiniões

A expressão senso comum designa, também, um conjunto de saberes e opiniões que uma determinada comunidade humana acumulou no decorrer do seu desenvolvimento. Sendo produto das experiências vividas por um povo ou por um grupo social alargado, esse saber comum constitui um patrimônio que herdamos das gerações anteriores e que partilhamos com todos os indivíduos da comunidade a que pertencemos.

Esta herança cultural que constitui o senso comum manifesta-se tanto em relação aos comportamentos ligados à sobrevivência imediata, o comestível e o não comestível, o perigo e a segurança, como em relação aos sentimentos e valores que organizam e situam o desenrolar da vivência dos homens, tais como o belo e o agradável, o bem e o mal, o justo e o injusto.

Sobre seu caráter de validade, cumpre dizer que não podemos ignorar o conhecimento comum tão somente pelo fato dele não ser acadêmico. Há uma validade nele que não pode ser ignorada. Contudo, o que devemos ter em mente é a ideia de que se trata de um saber impreciso e incerto, de modo que devemos tomá-lo como certo apenas em alguns contextos e em outros não. Os ditados populares nos ensinam isso. A frase "Em briga de marido e mulher ninguém deve meter a colher". Esta afirmação típica do conhecimento comum está certa e errada ao mesmo tempo, quem vai definir isso é o contexto onde está inserida. Por exemplo, há situações onde não devemos mesmo interferir uma vez que casais costumam discutir e se intrometer pode ser algo ruim. Por outro lado, cruzar os braços e não chamar a polícia enquanto sua vizinha é espancada pelo marido nos mostra que a frase está errada, pois as vezes é necessário que se faça isso, ou seja, que se intrometa mesmo e"meta a colher", afinal, há uma vida correndo risco e não fazer absolutamente nada por fidelização ao conteúdo da frase popular é crime de omissão.


O conhecimento científico é mais rigoroso e segue sempre um método. Há experiências sendo feitas no campo da ciência, isso não é nenhuma novidade, ocorre que o modo como estas experiências são feitas é que diferencia a experiência científica da do conhecimento comum. 





domingo, 8 de setembro de 2019

3º ANO :: 3º Bim :: Filosofia trágica de Nietzsche

Um dos aspectos mais marcantes e polêmicos do pensamento de Nietzsche é o da tragicidade do real. Todavia, ser trágico não significa ser essencialmente ruim ou mal. Estamos acostumados a pensar a palavra tragédia  como algo negativo e que representa sempre uma perda. O diálogo abaixo mostra esse significado comum da palavra.

- Houve uma tragédia. Disse o comissário
- Como assim? O que houve?! - Perguntou a mãe aflita

- Seu filho estava naquele trem...- respondeu



Porém,  a única perda que a realidade trágica assume em si é o da certeza sobre as coisas e sobre o sentido da vida. E no caso de Nietzsche e do seu pensamento trágico, essa certeza se estende às certezas advindas de Deus,  mas também não poupa a ciência, ou o seu otimismo científico ao submeter toda a realidade à lógica da racionalidade.

Segundo Nietzsche, de um lado a Vontade divina segue alheia aos acontecimentos humanos e não espera nada deles assim como não se conecta com eles; de outro lado os acontecimentos positivos da ciência não trazem um sentido à vida melhor do que a própria vida em si de modo que possam um dia poder controlá-la.



Isso torna a Realidade uma afirmação do presente como confluência (encontro) de toda a energia da vida, seja ela na forma de  tristeza ou de felicidade. O trágico não é perda nem ganho. O trágico simplesmente é algo que considera a realidade um acontecimento (ou uma sequência de acontecimentos)  sem um sentido maior que a própria vida ou maior que a própria realidade.

Assim, uma possível lógica trágica se traduz em:


A = A , ou O Ser é o que é. A vida é o que é. A realidade é ela mesma.

O aspecto indigesto disso é que toda a tentativa de se negar a vida em prol de uma outra vida é algo em vão que, mais cedo ou mais tarde, será atropelado pela própria vida/realidade. Assim, todo sentido e valor que por ventura  pareça conduzir a realidade a algo melhor (ou pior) que a própria vida/realidade,  é sempre um artifício criado pelo ser humano para se esquivar da própria vida.

O aspecto caótico que nos cerca não é necessariamente algo fadado à destruição. Dizer que o sentido da vida é a sua própria destruição é conferir a ela um sentido. Ora, mesmo um sentido ruim não deixa de ser um sentido e isso é algo que não se aplica ao pensamento trágico nietzscheano. Este caos é apenas um indicativo de que não há certezas maiores do que a própria vida/realidade nos propõe.

Desta forma, viver é um jogo onde há duas posições bem claras, a da resignação e da criação.

Resignar-se

Significa aceitar a certeza da morte  e viver  vida nesta espera para o nada. O nada  torna-se presente, pois não se vive, se espera.  Diante da consciência de que nada pode ser feito diante do absurdo que é a vida e suas incertezas, o homem então passa a esperar pela única coisa que ele tem certeza: a sua própria morte.

Vida = espera = morte

Enquanto esse encontro com a morte  não ocorre, o curso da vida resignada é restrito à auto conservação que inclui os rituais diários de afirmação da morte como se fosse uma antecipação da mesma. Assim, uma forma decadente de vida se configura e todo dia morre-se um pouco. A vida torna-se uma dança entediante que se desenvolve sem música e rumo ao seu próprio fim. Se Nietzsche condena o sentido da vida, este aparece de forma decadente na resignação do niilismo, pois:

Se não temos forças contra a morte, então que a força que nós temos seja a força da própria morte.


Criar-se

A criação é uma nobre atitude  humana diante da vida, pois a torna viva e intensa e afirmativa:


Que venha o pior! Pois o que não me mata me fortalece!

A vida , por ela mesma e desprovida desse impulso criativo,  é nada mais que a trilha certa para a morte como vimos anteriormente, uma vida "morta". A criação insere vida na própria vida uma vez que ela se ressignifica e sai do seu mero ciclo biológico e cotidiano de automanutenção em busca de uma vida que

valha a pena ser vivida para sempre

É quando a vida torna-se uma obra prima, e transcende a prisão do seu destino que caminha para a morte. Na vida trágica que evolui para uma vida arte, a morte é apenas um detalhe e não o seu objetivo maior.

Desta forma, é este quadro trágico de incertezas o qual estamos inseridos que nos move à superação de nós mesmos. Diante do nada nos resta apenas nos entregarmos ou, ao contrário, assumi-lo como ponto de partida para vida e todo o potencial criativo que ela representa. A morte permanece no seu mesmo insignificante lugar: no fim. Mas antes disso existe breve espaço de tempo destinado à criação e ao cuidado da vida como arte dela mesma.

terça-feira, 11 de junho de 2019

3º ano :: 2° bim (aulas 2 e 3) :: Hegel :: Razão e Estado.

“a coruja de Minerva levanta voo ao cair do crepúsculo”. Hegel

Olá pessoal, vamos abordar nessa postagem um conteudo que irá abranger as nossas aulas 2 e 3 do segundo bimestre. Trata-se de uma apresentação do  pensamento de Hegel a partir de alguns aspectos que objetivam esclarecer e também iniciar o leitor na obra do filósofo. O assunto do texto da aula anterior sobre esclarecimento  em Kant já caiu em avaliações do ENEM, e entendemos que uma abordagem sobre Hegel é importante primeiramente porque é de certa forma um desdobramento do pensamento kantiano e também porque este assunto é um forte candidato a aparecer em exames.  

Assim, iremos fazer uma abordagem superficial voltada para os conceitos fundamentais desse pensamento. Obviamente se o leitor ou leitora tiver interesse em se aprofundar, basta entrar em contato ou mesmo consultar as referências que iremos disponibilizar no final desta postagem.


1. A crítica a Kant

No texto sobre esclarecimento, podemos compreender com Kant que o uso da razão está diretamente ligado à liberdade individual. Ao pensar por nós mesmos vamos nos tornando indivíduos livres, aptos a ver e entender o mundo a partir do seu próprio juízo. Hegel concorda com isso e inclusive parte desse aspecto para compor seu sistema filosófico. Contudo, Hegel discorda no que diz respeito à liberdade como consequência natural do uso da razão, pois para ele essa liberdade individual carece de algo que lhe sirva de suporte, que a mantenha, que a defenda. Esse algo deve ser maior e mais forte que vontades e racionalidades individuais, ele deve ser na verdade a soma disso tudo, ou seja, o resultado da soma dessas individualidades: este ente é o Estado. 

 2. O Estado

A noção de  Estado moderno nos remonta à forma primitiva de Estado que é basicamente formada por três elementos essenciais:

1. povo
2. território
3. leis

A reunião desses três
elementos possibilita o surgimento de um Estado, já de forma isolada não, pois o fato de haver um povo não significa necessariamente que haja um Estado. Um território por si só também não garante isso e muito menos as leis que de um modo geral são consequência do Estado.

Segundo Hegel, a reunião destas três ideias ocorre como resultado de um processo que ele chama de dialético que se dá ao longo da História conferindo-lhe um sentido racional desde nossos antepassados até a concepção de Estado moderno que se tem hoje. 

Traçando esse trajeto histórico, entendemos que se trata de um processo porque um "povo" não era antes um "povo" e sim um grupo de pessoas que não tinha essa consciência de "povo". Ao se perceber como tal, pôde (também através da consciência) perceber o mundo que o cerca. 

Essa percepção de mundo possibilitou um domínio sobre ele manifestado a partir de técnicas de agricultura, domesticação de animais e construção de tecnologias primitivas de defesa. A natureza, o mundo ao redor e seu "desconhecimento" eram um problema a ser superado, deixar de ser nômade e tornar-se fixo representa esta superação porque  representam também um avanço rumo à noção de território.

A dialética entre "povo" e seu "território" irá gerar o espírito das leis e a partir da junção destes três elementos abre-se então a possibilidade da formação de um Estado, mas devemos lembrar que essa junção é sempre resultado de um processo e não de um passe de mágica.


3. A dialética 

Se compararmos a História a uma grande máquina de produzir fatos, podemos imaginar que a dialética representa as engrenagens dessa grande máquina. Ao pensarmos em um determinado acontecimento histórico, é fácil pensarmos que antes dele ocorreram outros acontecimentos e que depois dele também ocorrerão outros, e é fácil pensarmos que estes acontecimentos podem estar relacionados.

Essa relação existente entre os fatos na história nos conduz à ideia de dialética como "aquilo que faz mover" o curso das coisas a partir de uma tensão entre forças opostas. Deste modo, devemos pensar que se um problema gera necessariamente uma reação e consequentemente uma solução, então a História é o palco onde essa luta de forças é encenada. 


Deste modo, o esquema abaixo ilustra como é a estrutura da dialética:

   
Embora algumas pessoas se assustem com o exemplo acima e tenham alguma dificuldade para entender o funcionamento da dialética, basta pensar em exemplos simples advindos da própria realidade para compreendê-la. Por exemplo, vamos tentar perceber a dialética do mundo da moda no quadro abaixo.  

 




Deste modo, para cada afirmação ou ideia haverá uma reação contrária pois cada afirmação ou ideia traz consigo sempre a semente de seu contrário e isso forma o campo dialético cuja dinâmica faz mover a História, seja a pequena ou grande História.  



Isso nos ajuda a compreender várias situações como por exemplo a de uma suposta ameaça de ataque terrorista que gera necessariamente uma reação contrária, ou seja, uma reação de defesa. O embate entre essas duas situações irá gerar uma síntese que pode ser, a título de exemplo, uma política pública de segurança nacional  de combate às ameaças terroristas, etc. Essa síntese, por sua vez, torna-se um novo problema à medida que acaba afetando pessoas que não são terroristas mas que acabam tendo suas liberdades reduzidas.

Certamente essas pessoas irão reagir contra, assumindo o papel da antítese. E assim a História segue seu curso, sem nenhum truque, nenhuma mágica e sim com embates contínuos de forças opostas.


4. O Estado Absoluto

Como vimos acima, a História nada mais é que um fluxo contínuo resultante  da tensão entre forças opostas. Sua finalidade é, para Hegel, culminar no Estado absoluto ou plenamente racional, que reúne a vontade universal (leis) com a vontade subjetiva (indivíduo) em um todo organizado.
"O Estado para Hegel é um todo ético organizado, isto é, o verdadeiro, porque é a unidade da vontade universal e da subjetiva. É, como entende o referido autor, a substância ética por excelência, significando com isso que Estado e a constituição são os representantes da liberdade concreta, efetiva."1

O Estado é o ente que reúne consciências individuais garantindo-lhes, entre outras coisas, a liberdade. O Direito (criação, compreensão e aplicação) é a representação desse Estado racional, onde os indivíduos só encontram razão de ser se o forem no Estado e para o Estado. 

1. http://brasilescola.uol.com.br/filosofia/sobre-estado-filosofia-direito-hegel.htm

segunda-feira, 10 de junho de 2019

2° Ano :: 2°bim ( aula 3) :: O idealismo e a política platônica


A origem das ideias


A aula anterior certamente gerou uma dúvida central: se são as ideias é que geram as coisas do mundo ao redor, então de onde elas vem ? Assim, perguntar sobre a origem das ideias é justamente entender o porquê delas serem verdadeiras, o que nos leva à concepção de vida defendida por Platão.

Nossa vida mundana representa, segundo o filósofo, um estágio onde toda ação humana é um ato de lembrança de algo já vivido antes e, diga-se de passagem, algo verdadeiro. E que lembrança seria essa ? Segundo o filósofo, lembramos das ideias que vimos no mundo ideal (mundo inteligível), pois antes de termos um corpo, éramos somente espírito ou pensamento, e esta forma habitava fora deste mundo considerado imperfeito.

Na forma espiritual tivemos a oportunidade de contemplar as formas perfeitas. Após isso, ao assumirmos a forma material, nos esquecemos de tudo, tornando a vida comum (essa que vivemos no presente) um lugar de "preparação" para o retorno ao mundo ideal. Enquanto esse "retorno" não ocorre, vamos  construindo o mundo material a partir de nossas lembranças. 




Deste modo, o que vivemos aqui é uma tentativa contínua de recriar o mundo perfeito no mundo que vivemos. Isso explica nosso comportamento idealista que quase sempre idealiza o mundo, seja desde a "escalação ideal de um time, ou "time dos sonhos" até o ideal da pessoa que seria o nosso "par perfeito". Todos nós somos idealistas em maior ou menor grau, mesmo sem ter lido Platão acabamos confirmando uma de suas principais teorias.

Platão pensou em sistema político ideal direcionado à Atenas que no momento apresentava uma sequência de governos fracassados, uma série de formas decadentes de governo. Para o  filósofo estas formas fracassaram justamente porque eram conduzidas por govenrnates ignorantes. Platão retoma os ensinamentos de seu mestre Sócrates no que diz respeito à questão do erro: erramos quase sempre por ignorância. Este argumento nos conduz à ideia principal de Platão, cerne de  seu projeto político:

 Todo governante deve ser um sábio e as demais pessoas devem ser governadas por um lider sábio.

Deste modo, não ha política boa se não houver uma base de formação educacional, já que a sabedoria não é um dom e sim um resultado de amadurecimento espiritual decorrente de um processo. 

Sistema educacional platônico

Na obra A República (clique aqui para baixar o livro completo), Platão apresenta um sistema educacional voltado para o amadurecimento espiritual (intelectual) no sentido de preparar o cidadão grego para atuar na cidade.

Um governante não pode tornar-se governante por sorteio, ou só pelo fato de vir de uma família rica. O governante tem que merecer ser governante e se mostrar apto para isso. e é aí onde a educação entra em cena. Na proposta platônica, a educação seria comum a todos, seja filhos de ricos ou pobres, ou seja, todos teriam acesso à mesma estrututra, aos mesmos professores, ao mesmo conteúdo. 

Após vinte anos seria realizado um exame/corte para separar os "melhores" dos "piores". Os que se destacam seguem juntos por mais dez anos, onde ao término haveria então um segundo corte. Este iria definir os melhores dos melhores que teriam o direito e o dever de serem os governantes. O direito porque se destacaram ao longo de trinta anos, o dever porque não podem simplesmente optarem por não governar, já que essa escolha colocaria a cidade em risco de um governo decadente fruto de sua ignorância.

O processo educacional gera uma hierarquia espiritual:

1. Almas de ouro: governo
2. Almas de prata: exército
3. Almas de bronze: trabalhadores

Formas de governo decadentes

A concepção de um governo formado pelos "melhores" gera inevitavelmente um quadro aristocrático de governo à política. Contudo o aspecto ponderador é que essa elite não é uma elite de ricos, e sim de intelecuais. Um governo que governa sem conhecimento é um governo fadado ao fracasso. Deste modo Platão nos mostra como um governo de elite intelectual pode entrar em colapso decaindo para formas ruins de governo.

Timocracia: governo movido pelo espírito da guerra, da conquista , da vitória;

Oligarquia: governo  dos mais ricos voltado para enriquecer oeles mesmo

Democracia: governo do povo

Tirania: governo a partir da força










3º ano :: 2° bim (aula 1) :: Filosofia Moderna: O conceito de esclarecimento para Kant.

Um dos temas muito comuns em toda a história da filosofia é o da emancipação através do conhecimento. Mesmo no contexto de surgimento da filosofia é possível ver isso quando o conceito de Logos (linguagem que expressa o sentido da razão) ganha relevância para diferenciar do conhecimento comum. Observe abaixo duas afirmações do filósofo  Heráclito que têm a ver com esse assunto:

"Os asnos (burros) preferem palha ao ouro."

"Por isso, o comum deve ser seguido. Mas, a despeito de o Logos ser comum a todos, o vulgo (o povo comum) vive como se cada um tivesse um entendimento particular."

O mito da caverna em Platão também segue a mesma linha: do personagem que sai da condição de prisioneiro na escuridão de uma caverna para a luz e liberdade em uma clara alusão às consequencias do conhecimento.


Ainda nesta mesma linha, só que séculos depois, em 1783, Kant escreveu um breve texto onde aborda a questão do "esclarecimento" onde ele afirma que é a saída do homem de sua menoridade, ou seja, da sua condição inerente de ignorância. A ideia é que de certa forma todos nós somos ignorantes em determinados assuntos, pois não sabemos tudo. Porém, é possível sair dessa condição. Obviamente não a ponto de conhecer tudo, mas sim de sairmos da menoridade (não confundir com menor idade), sairmos dessa condição que nos limita e nos tornarmos esclarecidos naquilo que escolhemos conhecer.

 
Tornar-se esclarecido significa um ato de independência. Isso significa pensar por si, fazer uso da sua própria capacidade racional para pensar por si mesmo sem necessitar que outra pessoa faça isso em seu lugar. Devemos compreender que toda vez que alguém pensa por você, você por outro lado não pensa. Logo torna-se "escravo"  do pensamento alheio. Aparentemente é muito mais fácil tomar o pensamento pronto de outra pessoa, de um modo geral é o  que boa parte das pessoas fazem, inclusive até pagando por isso, se for o caso: repetem o pensamento das outras sem sequer fazer algum tipo de análise, contudo tornam-se presas àquela forma de pensamento que apenas reproduziram, mas que poderiam perfeitamente dominar.

Deste modo, tornar-se esclarecido é um importante passo à liberdade individual, o que nos permite afirmar que esta contribuição de Kant expressou de forma simples e acessível (o texto foi escrito em uma revista da época voltado para o público geral e não apenas o público acadêmico) as reais intenções do movimento Iluminista. 


Logo abaixo será disponibilizado um link para que você possa acessar o texto original de Kant. Se você estiver com preguiça  pouco tempo de ler , as principais ideias do texto encontram-se logo nas primeiras páginas, sendo as últimas desdobramentos das ideias apresentadas. 


Resposta à pergunta: O que é o Esclarecimento?

Abraço a todos, até a próxima aula!