segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

3º Ano :: 1º Bim :: Aula 2 e 3 :: René Descartes e o advento da Subjetividade (Sujeito) pela dúvida.


1. Lembrando um pouco sobre o sujeito...



Ouvimos muito falar em sujeito e objeto. Essas duas palavras estão sempre presentes nos discursos científicos, quando lemos algo:"e o objeto de pesquisa dos biólogos são os seres vivos". A ideia é a de que um objeto para ser compreendido e conhecido ele necessita de um sujeito, pois como vimos antes, é o sujeito quem dá sentido ao objeto e não o contrário, ou seja,  sem o sujeito que pensa e que tem as ferramentas de compreensão não haveria objetos (qualquer coisa) da forma como conhecemos hoje ou seja, com um nome, um sentido e suas características. Haveria apenas a coisa em si, presa nela mesma.

2. Descartes e a origem do Sujeito

O sujeito do conhecimento iniciou sua presença no mundo desde há muito tempo quando lançou suas interpretações míticas com o intuito de dar sentido ao mundo em sua volta. Ocorre que só no Século Dezessete, com René Descartes (se pronuncia Renê Decártes) é que o sujeito ganhou autonomia. Como assim autonomia ? É que nada garantia se esse sujeito existia ou não, se ele não existisse e se fosse tudo um sonho, logo tudo o que esse sujeito aprendesse do mundo ao redor também não existiria. Contudo, se o sujeito for real, então aumentam as possibilidades de seu conhecimento   ser real também. Ao concluir:" Penso, logo existo" Descartes garante não só o sujeito enquanto verdade mas também tudo aquilo que pensa, pois aprendemos com o filósofo que é o pensamento que garante a verdade das coisas. Mas vejamos como ele chegou a isso.

3. A dúvida cartesiana e suas consequências




Como dissemos acima, René Descartes nos ensina que o pensamento é o que garante a existência das coisas.  Ele chegou a essa conclusão a partir da seguinte postura:

Não aceitar como verdadeiro o conhecimento da tradição medieval, geralmente pautado na fé absoluta ou pela autoridade da Igreja. Era necessário um saber sólido que se sustentasse por si só, ou seja, uma verdade racional a qual ninguém duvidasse. Para isso ele adotou um método baseado em um ceticismo  radical*, algo que, por um determinado espaço de tempo,  duvidasse da existência de tudo para que ele então pudesse compreender se algo ainda assim iria resistir.

Desta forma, ele propõe alguns argumentos para consolidar seu método cético.


São eles:

a) Dúvida dos sentidos: onde devemos duvidar de todas as coisas o que os nossos sentidos (visão, olfato, audição, tato, etc)  nos informam e revelam sobre o que está ao nosso redor (objeto);

b) Dúvida dos sonhos: onde devemos duvidar do que realmente é realidade, considerando a possibilidade de a própria realidade ser um sonho;

c) Dúvida do Gênio Maligno ou Deus enganador: devemos duvidar se Deus realmente quer que encontremos a verdade, ou seja, Deus poderia não ser bondoso, mas  sim um ser  maligno que estaria nos enganando a cerca da verdade de modo que tudo que o nosso pensamento julgue verdadeiro seja falso.


Assim,  Descartes conclui que: se  nada do que  é visto ou sentido é verdadeiro, se nada na realidade pode ser de fato real e tudo que for feito diante desse real irá nos conduz ao erro, logo deve-se duvidar de tudo. Contudo, ao se duvidar de tudo, resta uma única coisa a qual não se pode duvidar:  de que se duvida.

Assim, "após este processo, Descartes chegou a uma conclusão: “Cogito, ergo sum”. Que significa: “Penso, logo existo”. Descartes entendeu, após passar pelos estágios de dúvida que a única coisa da qual ele não duvidava era da sua própria dúvida, assim entendeu que nem mesmo o possível Gênio Maligno poderia enganá-lo quanto a isto. Então ele percebeu que se ele dúvida, ou seja, se ele pensa que dúvida, logo ele está vivo, por tanto existe. Afinal não podemos duvidar da nossa própria dúvida. Você duvida da sua dúvida? "1

SE DUVIDO,  PENSO (a dúvida é um pensamento) SE PENSO, ENTÃO EXISTO!

Essa conclusão é revolucionária pois até então o sujeito estava preso ao próprio mundo confundindo-se com o objetos ao redor. Então, desta forma, o mundo ao nosso redor é real porque ele pode ser pensado. Os sentidos continuam sendo falhos, mas o pensamento os corrige. O ato de pensar é o que dá sentido a tudo e se houvesse a ausência do pensamento, não haveria nada, pois o que difere o sujeito do objeto é justamente essa capacidade de pensar de modo que agora não há dúvidas de que o sujeito de fato existe.


E como fica  Deus depois dessa certeza proposta por Descarte? A certeza de que eu existo a partir do meu pensamento?

O argumento de Descartes não só prova a existência do sujeito como também prova a existência de Deus além de livrá-lo da ideia de que ele é enganador e mal. Uma vez que se o ato de pensar é o que garante a minha existência e das demais coisas, conclui-se que quem me criou (Deus) só pode ser alguém bom, pois alguém ruim não nos criaria com a capacidade de pensar.



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Questões do ENEM











Enem 2013 Questão 1



TEXTO I

Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto. Era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente a fim de estabelecer um saber firme e inabalável.
DESCARTES, R. Meditações concernentes à Primeira Filosofia. São Paulo: Abril Cultural, 1973 (adaptado).

TEXTO II
É o caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo de busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí terá sido de alguma forma gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma daquelas que foram anteriormente varridas por essa mesma dúvida.
SILVA, F.L. Descartes. a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado).
A exposição e a análise do projeto cartesiano indicam que, para viabilizar a reconstrução radical do conhecimento, deve-se
  1. Aretomar o método da tradição para edificar a ciência com legitimidade.
  2. B
    questionar de forma ampla e profunda as antigas ideias e concepções.
  3. C
    investigar os conteúdos da consciência dos homens menos esclarecidos.
  4. D
    buscar uma via para eliminar da memória saberes antigos e ultrapassados.
  5. E
    encontrar ideias e pensamentos evidentes que dispensam ser questionados.

resolução

De acordo com René Descartes, o processo de formação do conhecimento dà-se a partir do método chamado por ele de ceticismo metodológico. Este consiste do pressuposto da dúvida de que um saber só pode ser reconhecido se puder ser provado. Dessa maneira, para se chegar à raiz do saber, será necessário questionar todas as ideias e pressupostos começando do zero. Só  assim, será alcançado o conhecimento verdadeiro e puro.
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Questão 02
(Fepese – SC– 2012) René Descartes tornou-se famoso pela frase “Cogito, ergo sum” (penso logo existo), pilar fundamental da filosofia:
a) Racionalista.
b) Fenomenológica.
c) Teocêntrica.
d) Empirista.
e) Liberal.

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Questão 03
(Fundação Carlos Chagas – SP – 2010). No Discurso do Método, René Descartes buscou estabelecer os procedimentos que asseguram a verdade das investigações científicas. Ele propõe quatro regras de conhecimento que seriam acessíveis a todos os homens que fazem uso de sua luz natural, quer dizer, da razão. Tais regras, que também seriam capazes de pôr abaixo todo pensamento dogmático e confuso produzido pela escolástica medieval, são:
a) As quatro regras matemáticas:
1. polinomiais; 2. algébricas; 3. aritméticas; 4. geométricas.
b) Os quatro princípios clássicos:
1. o princípio de não contradição; 2. o princípio do terceiro excluído; 3. o princípio do fundamento; 4. o princípio de identidade.
c) As quatro regras do método geométrico euclidiano.
d) As quatro regras do método científico:
1. Jamais aceitar algo como verdadeiro que não seja evidente. 2. Dividir as dificuldades em tantas partes quanto possível e necessário. 3. Começar pelo mais elementar e passar aos poucos ao mais complexo. 4. Fazer enumerações e revisões do conhecimento adquirido.
e) As quatro regras do Órganon aristotélico.
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Questão 04
(VUNESP – 2009) “Penso, logo existo” significa que
a) Minha alma pensa.
b) Meu corpo pensa.
c) Minha alma sente.
d) Meu corpo sente.
e) Meu corpo existe.

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 ATIVIDADE


QUESTÕES:

1. Porque o exercício da dúvida realizado por Descartes é conhecido como “dúvida metódica?
2. Por que Descartes não aceitava o saber da tradição anterior a ele?

3. Qual é a primeira certeza que rompe com a dúvida metódica? Explique como o filósofo chegou até ela.
4. Qual a o posicionamento adotado pelo filósofo para iniciar sua investigação?
5. Como era a noção de sujeito antes e depois de Descartes?

6. Enfim, Descartes prova ou não a existência de Deus a partir da sua constatação?



* Vale lembrar que Descartes não era cético, ele apenas adotou o ceticismo como método para chegar às suas conclusões. Muitos não compreendem isso e acabam julgando o filósofo de forma equivocada.

1. http://blogdoenem.com.br/descartes-e-duvida-filosofia-enem/

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