terça-feira, 11 de junho de 2019

3º ano :: 2° bim (aulas 2 e 3) :: Hegel :: Razão e Estado.

“a coruja de Minerva levanta voo ao cair do crepúsculo”. Hegel

Olá pessoal, vamos abordar nessa postagem um conteudo que irá abranger as nossas aulas 2 e 3 do segundo bimestre. Trata-se de uma apresentação do  pensamento de Hegel a partir de alguns aspectos que objetivam esclarecer e também iniciar o leitor na obra do filósofo. O assunto do texto da aula anterior sobre esclarecimento  em Kant já caiu em avaliações do ENEM, e entendemos que uma abordagem sobre Hegel é importante primeiramente porque é de certa forma um desdobramento do pensamento kantiano e também porque este assunto é um forte candidato a aparecer em exames.  

Assim, iremos fazer uma abordagem superficial voltada para os conceitos fundamentais desse pensamento. Obviamente se o leitor ou leitora tiver interesse em se aprofundar, basta entrar em contato ou mesmo consultar as referências que iremos disponibilizar no final desta postagem.


1. A crítica a Kant

No texto sobre esclarecimento, podemos compreender com Kant que o uso da razão está diretamente ligado à liberdade individual. Ao pensar por nós mesmos vamos nos tornando indivíduos livres, aptos a ver e entender o mundo a partir do seu próprio juízo. Hegel concorda com isso e inclusive parte desse aspecto para compor seu sistema filosófico. Contudo, Hegel discorda no que diz respeito à liberdade como consequência natural do uso da razão, pois para ele essa liberdade individual carece de algo que lhe sirva de suporte, que a mantenha, que a defenda. Esse algo deve ser maior e mais forte que vontades e racionalidades individuais, ele deve ser na verdade a soma disso tudo, ou seja, o resultado da soma dessas individualidades: este ente é o Estado. 

 2. O Estado

A noção de  Estado moderno nos remonta à forma primitiva de Estado que é basicamente formada por três elementos essenciais:

1. povo
2. território
3. leis

A reunião desses três
elementos possibilita o surgimento de um Estado, já de forma isolada não, pois o fato de haver um povo não significa necessariamente que haja um Estado. Um território por si só também não garante isso e muito menos as leis que de um modo geral são consequência do Estado.

Segundo Hegel, a reunião destas três ideias ocorre como resultado de um processo que ele chama de dialético que se dá ao longo da História conferindo-lhe um sentido racional desde nossos antepassados até a concepção de Estado moderno que se tem hoje. 

Traçando esse trajeto histórico, entendemos que se trata de um processo porque um "povo" não era antes um "povo" e sim um grupo de pessoas que não tinha essa consciência de "povo". Ao se perceber como tal, pôde (também através da consciência) perceber o mundo que o cerca. 

Essa percepção de mundo possibilitou um domínio sobre ele manifestado a partir de técnicas de agricultura, domesticação de animais e construção de tecnologias primitivas de defesa. A natureza, o mundo ao redor e seu "desconhecimento" eram um problema a ser superado, deixar de ser nômade e tornar-se fixo representa esta superação porque  representam também um avanço rumo à noção de território.

A dialética entre "povo" e seu "território" irá gerar o espírito das leis e a partir da junção destes três elementos abre-se então a possibilidade da formação de um Estado, mas devemos lembrar que essa junção é sempre resultado de um processo e não de um passe de mágica.


3. A dialética 

Se compararmos a História a uma grande máquina de produzir fatos, podemos imaginar que a dialética representa as engrenagens dessa grande máquina. Ao pensarmos em um determinado acontecimento histórico, é fácil pensarmos que antes dele ocorreram outros acontecimentos e que depois dele também ocorrerão outros, e é fácil pensarmos que estes acontecimentos podem estar relacionados.

Essa relação existente entre os fatos na história nos conduz à ideia de dialética como "aquilo que faz mover" o curso das coisas a partir de uma tensão entre forças opostas. Deste modo, devemos pensar que se um problema gera necessariamente uma reação e consequentemente uma solução, então a História é o palco onde essa luta de forças é encenada. 


Deste modo, o esquema abaixo ilustra como é a estrutura da dialética:

   
Embora algumas pessoas se assustem com o exemplo acima e tenham alguma dificuldade para entender o funcionamento da dialética, basta pensar em exemplos simples advindos da própria realidade para compreendê-la. Por exemplo, vamos tentar perceber a dialética do mundo da moda no quadro abaixo.  

 




Deste modo, para cada afirmação ou ideia haverá uma reação contrária pois cada afirmação ou ideia traz consigo sempre a semente de seu contrário e isso forma o campo dialético cuja dinâmica faz mover a História, seja a pequena ou grande História.  



Isso nos ajuda a compreender várias situações como por exemplo a de uma suposta ameaça de ataque terrorista que gera necessariamente uma reação contrária, ou seja, uma reação de defesa. O embate entre essas duas situações irá gerar uma síntese que pode ser, a título de exemplo, uma política pública de segurança nacional  de combate às ameaças terroristas, etc. Essa síntese, por sua vez, torna-se um novo problema à medida que acaba afetando pessoas que não são terroristas mas que acabam tendo suas liberdades reduzidas.

Certamente essas pessoas irão reagir contra, assumindo o papel da antítese. E assim a História segue seu curso, sem nenhum truque, nenhuma mágica e sim com embates contínuos de forças opostas.


4. O Estado Absoluto

Como vimos acima, a História nada mais é que um fluxo contínuo resultante  da tensão entre forças opostas. Sua finalidade é, para Hegel, culminar no Estado absoluto ou plenamente racional, que reúne a vontade universal (leis) com a vontade subjetiva (indivíduo) em um todo organizado.
"O Estado para Hegel é um todo ético organizado, isto é, o verdadeiro, porque é a unidade da vontade universal e da subjetiva. É, como entende o referido autor, a substância ética por excelência, significando com isso que Estado e a constituição são os representantes da liberdade concreta, efetiva."1

O Estado é o ente que reúne consciências individuais garantindo-lhes, entre outras coisas, a liberdade. O Direito (criação, compreensão e aplicação) é a representação desse Estado racional, onde os indivíduos só encontram razão de ser se o forem no Estado e para o Estado. 

1. http://brasilescola.uol.com.br/filosofia/sobre-estado-filosofia-direito-hegel.htm

segunda-feira, 10 de junho de 2019

2° Ano :: 2°bim ( aula 3) :: O idealismo e a política platônica


A origem das ideias


A aula anterior certamente gerou uma dúvida central: se são as ideias é que geram as coisas do mundo ao redor, então de onde elas vem ? Assim, perguntar sobre a origem das ideias é justamente entender o porquê delas serem verdadeiras, o que nos leva à concepção de vida defendida por Platão.

Nossa vida mundana representa, segundo o filósofo, um estágio onde toda ação humana é um ato de lembrança de algo já vivido antes e, diga-se de passagem, algo verdadeiro. E que lembrança seria essa ? Segundo o filósofo, lembramos das ideias que vimos no mundo ideal (mundo inteligível), pois antes de termos um corpo, éramos somente espírito ou pensamento, e esta forma habitava fora deste mundo considerado imperfeito.

Na forma espiritual tivemos a oportunidade de contemplar as formas perfeitas. Após isso, ao assumirmos a forma material, nos esquecemos de tudo, tornando a vida comum (essa que vivemos no presente) um lugar de "preparação" para o retorno ao mundo ideal. Enquanto esse "retorno" não ocorre, vamos  construindo o mundo material a partir de nossas lembranças. 




Deste modo, o que vivemos aqui é uma tentativa contínua de recriar o mundo perfeito no mundo que vivemos. Isso explica nosso comportamento idealista que quase sempre idealiza o mundo, seja desde a "escalação ideal de um time, ou "time dos sonhos" até o ideal da pessoa que seria o nosso "par perfeito". Todos nós somos idealistas em maior ou menor grau, mesmo sem ter lido Platão acabamos confirmando uma de suas principais teorias.

Platão pensou em sistema político ideal direcionado à Atenas que no momento apresentava uma sequência de governos fracassados, uma série de formas decadentes de governo. Para o  filósofo estas formas fracassaram justamente porque eram conduzidas por govenrnates ignorantes. Platão retoma os ensinamentos de seu mestre Sócrates no que diz respeito à questão do erro: erramos quase sempre por ignorância. Este argumento nos conduz à ideia principal de Platão, cerne de  seu projeto político:

 Todo governante deve ser um sábio e as demais pessoas devem ser governadas por um lider sábio.

Deste modo, não ha política boa se não houver uma base de formação educacional, já que a sabedoria não é um dom e sim um resultado de amadurecimento espiritual decorrente de um processo. 

Sistema educacional platônico

Na obra A República (clique aqui para baixar o livro completo), Platão apresenta um sistema educacional voltado para o amadurecimento espiritual (intelectual) no sentido de preparar o cidadão grego para atuar na cidade.

Um governante não pode tornar-se governante por sorteio, ou só pelo fato de vir de uma família rica. O governante tem que merecer ser governante e se mostrar apto para isso. e é aí onde a educação entra em cena. Na proposta platônica, a educação seria comum a todos, seja filhos de ricos ou pobres, ou seja, todos teriam acesso à mesma estrututra, aos mesmos professores, ao mesmo conteúdo. 

Após vinte anos seria realizado um exame/corte para separar os "melhores" dos "piores". Os que se destacam seguem juntos por mais dez anos, onde ao término haveria então um segundo corte. Este iria definir os melhores dos melhores que teriam o direito e o dever de serem os governantes. O direito porque se destacaram ao longo de trinta anos, o dever porque não podem simplesmente optarem por não governar, já que essa escolha colocaria a cidade em risco de um governo decadente fruto de sua ignorância.

O processo educacional gera uma hierarquia espiritual:

1. Almas de ouro: governo
2. Almas de prata: exército
3. Almas de bronze: trabalhadores

Formas de governo decadentes

A concepção de um governo formado pelos "melhores" gera inevitavelmente um quadro aristocrático de governo à política. Contudo o aspecto ponderador é que essa elite não é uma elite de ricos, e sim de intelecuais. Um governo que governa sem conhecimento é um governo fadado ao fracasso. Deste modo Platão nos mostra como um governo de elite intelectual pode entrar em colapso decaindo para formas ruins de governo.

Timocracia: governo movido pelo espírito da guerra, da conquista , da vitória;

Oligarquia: governo  dos mais ricos voltado para enriquecer oeles mesmo

Democracia: governo do povo

Tirania: governo a partir da força










3º ano :: 2° bim (aula 1) :: Filosofia Moderna: O conceito de esclarecimento para Kant.

Um dos temas muito comuns em toda a história da filosofia é o da emancipação através do conhecimento. Mesmo no contexto de surgimento da filosofia é possível ver isso quando o conceito de Logos (linguagem que expressa o sentido da razão) ganha relevância para diferenciar do conhecimento comum. Observe abaixo duas afirmações do filósofo  Heráclito que têm a ver com esse assunto:

"Os asnos (burros) preferem palha ao ouro."

"Por isso, o comum deve ser seguido. Mas, a despeito de o Logos ser comum a todos, o vulgo (o povo comum) vive como se cada um tivesse um entendimento particular."

O mito da caverna em Platão também segue a mesma linha: do personagem que sai da condição de prisioneiro na escuridão de uma caverna para a luz e liberdade em uma clara alusão às consequencias do conhecimento.


Ainda nesta mesma linha, só que séculos depois, em 1783, Kant escreveu um breve texto onde aborda a questão do "esclarecimento" onde ele afirma que é a saída do homem de sua menoridade, ou seja, da sua condição inerente de ignorância. A ideia é que de certa forma todos nós somos ignorantes em determinados assuntos, pois não sabemos tudo. Porém, é possível sair dessa condição. Obviamente não a ponto de conhecer tudo, mas sim de sairmos da menoridade (não confundir com menor idade), sairmos dessa condição que nos limita e nos tornarmos esclarecidos naquilo que escolhemos conhecer.

 
Tornar-se esclarecido significa um ato de independência. Isso significa pensar por si, fazer uso da sua própria capacidade racional para pensar por si mesmo sem necessitar que outra pessoa faça isso em seu lugar. Devemos compreender que toda vez que alguém pensa por você, você por outro lado não pensa. Logo torna-se "escravo"  do pensamento alheio. Aparentemente é muito mais fácil tomar o pensamento pronto de outra pessoa, de um modo geral é o  que boa parte das pessoas fazem, inclusive até pagando por isso, se for o caso: repetem o pensamento das outras sem sequer fazer algum tipo de análise, contudo tornam-se presas àquela forma de pensamento que apenas reproduziram, mas que poderiam perfeitamente dominar.

Deste modo, tornar-se esclarecido é um importante passo à liberdade individual, o que nos permite afirmar que esta contribuição de Kant expressou de forma simples e acessível (o texto foi escrito em uma revista da época voltado para o público geral e não apenas o público acadêmico) as reais intenções do movimento Iluminista. 


Logo abaixo será disponibilizado um link para que você possa acessar o texto original de Kant. Se você estiver com preguiça  pouco tempo de ler , as principais ideias do texto encontram-se logo nas primeiras páginas, sendo as últimas desdobramentos das ideias apresentadas. 


Resposta à pergunta: O que é o Esclarecimento?

Abraço a todos, até a próxima aula!

3º ano :: 2° bim (aula 1 e 2) :: Filosofia Moderna: Racionalismo vs Empirismo e a solução de Kant

Racionalismo e empirismo




“No que se refere à ciência e à filosofia, a síntese medieval culminou com o sistema abrangente de Tomás de Aquino. O racionalismo escolástico estava unido ao misticismo cristão e o conhecimento dos gregos estava amoldado aos ensinamentos da Igreja, formando uma imagem do universo. As causas finais estavam por trás de cada processo da natureza. Uma inteligência divina permeava tudo. E a vontade de Deus, apesar de incompreensível em seus detalhes, proporcionava racionalidade e sentido a todas as coisas”. (Werkmeister, 1940, tradução nossa). O texto do pensador americano Werkmeister proporciona uma clara imagem do paradigma teológico-filosófico que vigorou durante a maior parte da Idade Média. Todavia, o Renascimento inauguraria uma nova mentalidade, uma maneira diferente de enxergar o universo, já bastante influenciada pelo princípio de desenvolvimento das ciências naturais. Um dos primeiros cientistas-filósofos da época (ainda não havia clara distinção entre ambas as ciências), Bernardino Telésio, é um típico representante da nova mentalidade empírico-científica da época. Segundo Höffding, Telésio considerava que mesmo o mais alto e mais perfeito conhecimento simplesmente consistia na habilidade de descobrir atributos e condições desconhecidas do fenômeno, através de suas similaridades com outros casos conhecidos. Ou seja, novas descobertas devem ser feitas empiricamente, baseadas na observação dos fenômenos da natureza, como já ensinava Aristóteles. 


É neste ambiente cultural que o empirismo e o racionalismo moderno se desenvolvem. Um dos grandes precursores do empirismo – e por sinal também um dos ideólogos do moderno método científico – foi Francis Bacon (1561-1626). Dizia ele que todo conhecimento tinha que ser baseado em dados da experiência. As informações, no entanto, deveriam ser reunidas e utilizadas de acordo com um método, de modo a possibilitar fazer inferências cientificamente aproveitáveis. 


Os sucessores intelectuais de Bacon foram os empiristas ingleses, dos quais os principais representantes eram Thomas Hobbes (1588-1674), John Locke (1632-1704), George Berkeley (1685-1753) e David Hume (1711-1776). O ponto de partida das investigações destes filósofos não foram os problemas do ser, mas do conhecer. No entanto, enquanto filósofos continentais (os racionalistas) encaram o problema do conhecimento a partir das ciências exatas, os empiristas voltam-se para as ciências experimentais. O próprio ambiente cultural e sócio-econômico da Inglaterra da época coopera para tanto, já que ocorria um grande florescimento das ciências experimentais – botânica, astronomia, química, mecânica, etc. Seguindo a linha de raciocínio das ciências experimentais, o empirismo parte de fatos, eventos constatados pela experiência. Agindo assim, chega à seguinte problemática epistemológica: como, partindo da experiência sensível, é possível chegar às leis universais? A solução encontrada pelos filósofos foi a de que partindo do pressuposto de que todo o conhecimento é originário da experiência, conclui-se que mesmo as idéias abstratas e as leis científicas têm a mesma incerteza, instabilidade e particularidade do conhecimento empírico. 

A alma (a mente) não possui idéias inatas, como afirmava o racionalista Platão. As impressões, obtidas pela experiência, isto é, pela sensação, percepção e pelo hábito, são direcionadas à memória e desta – através de um processo de associação de idéias, segundo o filósofo Hume – formam-se os pensamentos. O próprio hábito de associar idéias, pela diferenças ou semelhanças, forma a razão, ainda segundo Hume. A mais famosa tese do empirismo, desenvolvida por John Locke, é a da tabula rasa. Com este conceito o filósofo queria dizer que ao nascermos não temos nenhum princípio ou idéia inata e tudo que aprendemos e processamos em nossa mente provêm das experiências feitas durante a vida.


A escola racionalista, inaugurada por René Descartes (1596-1650), tem um posicionamento diferente em relação à maneira como é adquirido o conhecimento. Vivendo em um ambiente diferente dos empiristas, assolado por guerras (Guerra dos 30 anos de 1618 a 1648) e perseguições religiosas (Massacre de São Bartolomeu em 1572), os filósofos racionalistas foram mais apegados a conceitos imutáveis, como os das ciências teóricas (matemática e geometria). Para os filósofos racionalistas, cujos representantes principais foram Descartes, Nicolas Malebranche (1638-1715), Baruch Espinosa (1632-1677) e Leibniz (1646-1716), é necessário descobrir uma metodologia de investigação filosófica sobre a qual se pudesse construir todo o conhecimento. A resposta a esta questão, encontrada por Descartes, foi que o conhecimento válido não provem da experiência, mas encontra-se inato na alma. Em relação ao método para atingir este conhecimento, o filósofo francês propõe colocar em dúvida qualquer conhecimento que não seja claro e distinto. Este conhecimento pode ser obtido através da análise racional, com a qual é possível apreender a natureza verdadeira e imutável das coisas. Trata-se, de certa forma, de uma reedição do platonismo, possibilitando a metafísica e a aceitação de uma moral baseada em princípios tidos como racionais e universalmente válidos.



A solução de Kant 
 

A dicotomia entre racionalismo e empirismo perpassa toda a filosofia dos séculos XVII e XVIII. A possibilidade do conhecimento efetivo e absoluto, afirmado pelos racionalistas e negado pelos empiristas é estudada detalhadamente pelo filósofo Immanuel Kant (1724-1804). Este teve sua atenção despertada para o problema do conhecimento após ler a obra do empirista Hume, que, segundo o próprio Kant, o acordou do “sonho dogmático”. A solução para a oposição entre o racionalismo e o empirismo foi chamada por ele mesmo de “Revolução copernicana da filosofia”, numa referência à revolução paradigmática feita por Copérnico na astronomia, que mudou nossa visão do mundo e de sua posição no universo.



De certo modo, Kant motrou que tanto os inatistas (os racionalistas, que consideravam certas idéias inatas na alma) quanto os empiristas estavam certos em alguns pontos e equivocados em outros. Ou seja, os conteúdos do conhecimento não eram 100% inatos nem 100% adquiridos pela experiência.

Kant postula que a razão é inata, mas é uma estrutura vazia e sem conteúdo, que não depende da experiência para existir. A razão fornece a forma do conhecimento e a matéria é fornecida pelo conhecimento. Desta maneira, a estrutura da razão é inata e universal, enquanto os conteúdos são empíricos, obtidos pela experiência. Baseado nestes pressupostos, Kant afirma que o conhecimento é racional e verdadeiro.




Todavia, segundo o filósofo, não podemos conhecer a realidade das coisas e do mundo, o que ele chamou de noumeno, “a coisa em si”. A razão humana só pode conhecer aquilo que recebeu as formas (cor, tamanho, etc.) e as categorias (elementos que organizam o conhecimento) do sujeito do conhecimento, isto é, de cada um de nós. A realidade, portanto, não está nas coisas (já que não as podemos conhecer em última análise), mas em nós. Assim, vemos o mundo “filtrado e processado” pela nossa razão, depois que as percepções passaram pelas categorias.

Efetivamente, depois de Kant a Teoria do Conhecimento tomou um rumo bastante diverso daquele do racionalismo e empirismo originais. A solução dada ao tema pelo filósofo de Königsberg não eliminou as discussões, mas deu-lhes uma profundidade muito maior.



Fonte:

www.consciencia.org/empirismo-e-racionalismo