terça-feira, 11 de abril de 2017

2º ano :: 2°bim :: (aula 1) :: Pré-socráticos: Heráclito e Parmênides


A Natureza e o pensamento racional

No texto da aula anterior vimos que os filósofos da natureza ( ou pré-socráticos) iniciaram uma nova abordagem sobre a compreensão de como as coisas funcionam e existem no mundo atribuindo a um princípio natural que eles chamavam de physis. Eles pensavam que era a partir daí que as coisas eram geradas e não mais pela indecifrável vontade dos deuses. O que os deuses queriam não alteraria mais a ordem e o desenvolvimento natural das coisas, pois as questões divinas estariam limitadas ao ethos (lugar) dos deuses.



Deste modo, os filósofos da natureza libertaram-na das garras da vontade divina, a partir do momento em que a physis é considerada algo decifrável, ou seja, acessível a qualqer um que faça uso do seu pontencial racional.



Aos poucos o conceito de physis vai se tornando cada vez mais complexo. Se em um primeiro momento é clara a sua conexão com a natureza (água, ar, terra, fogo, etc), em um segundo momento ela se torna mais conceitual e mais abstrata. Dizer, por exemplo, que a água gerou todas as coisas tornou-se algo insuficiente, uma vez que eles parecem ter concluido que a água (ou qualquer outro elemento) não poderia ter gerado tudo sozinha, o que pressupõe algo mais complexo.



Isso abriu espaço para um pensamento novo não tão dependente do mundo natural em si, mas agora mais ligado ao pensamento e como esse pensamento pode vir a compreender as coisas. É quando surgem duas grandes abordagens do pensamento filosófico que servirão de base para séculos de discussões posteriores. Essas abordagens são apresentadas por Heráclito e Parmênides.





Heráclito de Éfeso (540 - 470 a.C.)


Ao contrário de pensar em um elemento natural como causa primeira, Heráclito defende a ideia de que de que tudo está em movimento (teoria mobilista) de que nada se mantém porque “tudo flui”. Existe uma frase que é atribuída a ele

 “Não é possivel se banhar duas vezes no mesmo rio, porque o rio não é mais o mesmo....e nós também não somos mais os mesmos”.


 O fragmento acima nos mostra uma realidade em contínua mudança, em contínua transformação. Nossa relação com o mundo altera o próprio mundo (rio) e nos altera também (banhista). Heráclito certamente utilizou o rio como exemplo para ilustrar bem a ideia de movimento que se faz presente na natureza. 


Deste modo, para entendermos a natureza das coisas é necessário  entendermos o movimento das coisas, seus passos, sua evolução, suas mudanças e para isso devemos fazer uso da ferramenta da razão (que ele chamava de Logos), que cada ser humano possui ao seu dispor. Resumindo: sem o uso do Logos não há compreensão do movimento.

 Mas esse movimento vem de onde ? Alguém poderia perguntar. Algum deus movimenta as coisas e cabe a cada um de nós perceber e compreender esse movimento ? Segundo Heráclito o movimento não surge do nada, pois ele resulta da luta entre opostos que segundo ele há na natureza:

Quente - Frio :: Luz - Escuridão :: Amor - Ódio :: Morte - Vida :: Alteração - Conservação etc...
Essa relação conflituosa que existe no mundo gera o movimento, pois cada oposto é, na verdade, uma força oposta a algo. Deste modo há um conflito eterno na natureza e este conflito gera coisas novas, que vão por sua vez lutar contra outras coisas novas, que vão por sua vez lutar contra outras coisas novas, que vão por sua vez lutar....e assim por diante, criando um cenário de contínuo movimento onde nada se mantém fixo e eterno.

 Parmênides de Eléia (530 a.C. - 460 a.C.)

Este filósofo defendeu a ideia de que o ser é estático (não se movimenta)  ou seja “tudo o que é de verdade se mantém em si mesmo” (teoria monista). Assim, não há espaço para o movimento no pensamento deste filósofo, pois na sua concepção, aquilo que se movimenta se movimenta para ser algo, logo não é, ou seja, não possui o status de ser

É  possivel dizer que o filósofo reconheça o movimento, desde que este movimento seja uma manifestação do não-ser (contário do ser), já que o ser não precisa se movimentar, pois  não lhe falta nada, logo  não necessita do movimento para se tornar algo. O ser simplesmente é. Um trecho de seu pensamento afirma que:
 “O ser é e o não ser, não é”


A verdade está necessariamente presente no ser, ou seja, no que é. O que estiver fora deste espaço é não-ser, ou seja, é algo indefinido e por ser assim não possui status de verdade.  




Deste modo, Parmênides perguntaria a Heráclito: como pode ser verdadeiro algo que muda constantemente ?  A ideia de amor não pode mudar, pois o amor que muda deixa de ser amor.  O mesmo para o conceito de justiça. Uma justiça que muda a todo instante só pode ser injusta. Não mudar signfica conservar de modo que o que é ser é mantido como tal sem possibilidade de mudança. Assim, só há uma realidade e essa é imutável, eterna e verdadeira.



Bases para um pensamento político futuro

Embora a filosofia só tenha discutido as questões humanas (éticas, estéticas e políticas) a partir de Sócrates, é inegável que estes dois filósofos pré-socráticos deixaram as bases para o desenvolvimento de um  pensamento politico posterior.  Nenhum dos dois escreveu sobre politica, mas o que escreveram ajudou posteriormente na formação do pensamento político e ético.

Ao dizer que a realidade é um constante movimento, podemos concluir  com Heráclito que a História não pára justamente por isso, e que uma situação que venha a aparecer na História não é eterna. Por exemplo: o fato das mulheres não poderem estudar, ou a escravidão dos negros, ou o trabalho infantil, etc. São exemplos de fatos que ocorreram e que ocorrem mas que não são eternos e podem mudar e essa mudança ocorre através do enfrentamento de forças opostas. 

Ao afirmar que a verdade não pode mudar, Parmênides cria as bases do que conhecemos hoje por pensamento conservador, na perspectiva de que as coisas, os conceitos e instituições não podem estar sujeitas à mudanças constantes sob o risco de não gerarem confiança ou mesmo de enfraquecerem, ou seja, um possível legado do pensamento de Parmênides para a política se traduziria no fato de que a verdade existe e que ela está no Ser e de que a politica deve funcionar seguindo essa lógica, caso contrário seria uma política falsa, distante se sua real essência, algo próximo do que vemos nos dias presentes.



Conclusão

 Embora o pensamento de ambos seja bem diferente um do outro, há um ponto muito forte que os une: a ideia de que é necessário o pensamento racional para se compreender a verdade das coisas, tanto para interpretar o movimento  quanto para compreender o Ser, em ambos os casos a razão é a ferramenta que permite o acesso ao entendimento e ao conhecimento da verdade.


 Espero que tenham compreendido o pensamento destes dois filósofos, qualquer dúvida pode ser exposta na parte de comentários ou levada à sala de aula para eu explicar e facilitar a compreensão.

Forte abraço! 
Prof. Matheus Gondim Freitas Pinto


Nenhum comentário:

Postar um comentário