terça-feira, 18 de abril de 2017

2º ano :: 2° bim (aula 2 ) :: Os sofistas

A questão da "Verdade" e das "verdades"

No primeiro bimestre, vimos que o início da filosofia foi marcado pela busca da verdade. Não sendo uma verdade de cunho religioso, vários filósofos se colocaram a pensar sobre uma verdade natural que fosse comum a todos e que todos pudessem compreendê-la a partir do entendimento racional e não a partir de um ato de fé.

Mesmo com as diferenças em cada uma das abordagens, todos perecem concordar com um aspecto fundamental: a natureza existe e não é caótica. A ideia de que a natureza guarda uma ordem é a base da primeira filosofia, pois trata-se de um ponto sólido de partida que permitia a criação de uma nova narrativa diferente da anterior, a do mito.

A filosofia presenteou a humanidade com uma relação que nos serve de guia até os dias de hoje, a ideia de que o conhecimento é a verdade ou parte dela. Não buscamos o conhecimento para ouvir e aprender mentiras, buscamos a verdade. 

Contudo essa busca muitas vezes perde seu rumo, de modo que as primeiras verdades aprendidas tornam-se logo verdades absolutas ofuscando outras futuras possíveis verdades. É o caso de quem se satisfaz com uma determinada teoria tornando-se radical e acaba se fechando para as demais não dando-lhes espaço para reflexão.  

Os sofistas nos alertaram disso séculos antes, ao afirmarem que as verdades relativas têm mais razão de ser que verdade absolutas. O termo "sofista" é até hoje contaminado por uma noção negativa que os aproxima à mentira, ou à falsidade associada à ardilosidade. 

Cabe aqui uma observação: os sofistas são esses  "anti-filósófos" por ousarem relativizar e verdade absolutas, e fortalecer as verdades consensuais, ou seja, aquela que resulta do acordo entre duas ou mais pessoas, dois ou mais grupos, dois ou mais países. Os sofistas não pregavam a mentira como meio de se viabilizar politicamente. Segundo o sofista Protágoras,
"O homem é a medida de todas as coisas"



Isso quer dizer que nós estabelecemos o valor das coisas, as coisas não possuem valor em si, todo valor que algo possa ter é sempre dado por nós. No caso do conhecimento,  mesmo as verdades "naturais" ou seja, aquelas percebidas na natureza como afirmaram os pré-socráticos, são, segundo os sofistas,  verdades "artificiais" ou seja, criadas por nós mesmos. 

A natureza segue como algo a ser estudado e compreendido, porém o discurso que se cria a partir do conhecimento dela é uma produção humana que só tem valor entre os humanos. Deste modo, essa lógica se estende às verdades absolutas que nada mais são que pequenas verdades criadas por alguém e apresentadas como grandes verdades (ou absolutas).  


Contexto histórico

Os sofistas surgiram em um momento de ascensão da democracia após o declínio de governos tirânicos que governavam na base da força. A democracia significa "demos" povo; "cracia" governo, governo do povo. O povo ganha força política e passa a buscar representação nas assembleias públicas, mas para isso precisava também de formação. 

Diante desse quadro é que os sofistas aparecem, oferecendo serviços de professor ensinando como seus alunos deveriam falar  para convencer as pessoas a aderirem às suas verdades. As técnicas de retórica e oratória são importantes ferramentas de aprimoramento da comunicação do aluno sofista e futuro político, mas elas são orientadas pela filosofia das verdades relativas defendidas pelos sofistas.



Na aula 2, sobre Sócrates,  continuaremos ainda abordando o tema sobre sofistas. 

1. Imagem retirada do site https://caravelanibble.wordpress.com/2015/03/30/sofistas-ontem-e-hoje/


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