terça-feira, 25 de abril de 2017

3º ano :: 2º Bim (aula 4) :: Pensamento político de Maquiavel

O pensamento político de Nicolau Maquiavel (1469 — 1527) tem como objetivo pensar a manutenção do poder a partir de uma compreensão diferenciada acerca do que seja a política e do papel do agente político. 


O pensamento político de Maquiavel é considerado polêmico justamente por causa dessa compreensão diferenciada, o que torna a obra O Príncipe um marco na história da política não enquanto simples prática de poder, mas enquanto ciência política. 

Clicando AQUI você poderá acessar a obra O Príncipe, de Maquiavel



Uma ciência política ?

Dar à política o  status de ciência
é certamente  algo que muitas pessoas não concordam. Ocorre que Maquiavel foi genial em perceber "um sentido" que confere uma certa lógica às práticas políticas que acabam revelando aspectos comuns da ciência: método (como agir) e observação das causas e efeitos (resultados).
Quanto ao método, Maquiavel disponibiliza de um verdadeiro manual de como conduzir o poder no sentido de mantê-lo pelo maior tempo possível, um conteúdo útil até os dias de hoje se consideramos que a obra acima citada deve fazer parte da biblioteca básica de vários políticos.

Quanto à observação das causas e efeitos, Maquiavel nos mostra que a política funciona a partir de ações que geram reações de modo que cabe ao governante tomar as decisões cabíveis para se manter no poder  e estas decisões não devem ser pautadas por uma moral do bem e do mal, elas devem ter o foco voltado para a obtenção e permanência do poder, custe o que custar.  

Para além do bem e do mal


Um dos aspectos que gera a polêmica no pensamento de Maquiavel é o de conceber a política como um espaço de atuação  que opera para além das fronteiras morais do bem e do mal. Basta imaginarmos o seguinte: se o poder vem do povo, pois nenhum governante governa para ninguém, logo e o governante deve cuidar do seu povo, o que não quer dizer que ele deva tratar bem e satisfazer suas vontades.

A vontade do governante se concretiza de forma pública atingindo o povo, e essa vontade não pode ser delimitada por conceitos morais e sim conceitos políticos. Assim, se for necessário tomar medidas más para o bem do povo e manutenção do governo,  isso então deverá ser feito. Pois não é interessante para o governante ter o povo contra ele, já que isso é um forte aspecto de risco ao próprio poder em caso de rebelião. 

Desta maneira, o governante não pode ser bom demais, atendendo todas as vontades, nem pode ser mal demais, sendo um tirano sanguinário e criando uma sensação exagerada de  medo. O governante de buscar o equilíbrio já que a estabilidade em tese lhe garantiria mais tempo de permanência no comando.
A Virtude e a Fortuna

Além do equilíbrio o governante deve ser virtuoso. Contudo, em Maquiavel, ser virtuoso não é buscar o bem, mas sim ser ou ao menos buscar ser um vencedor. A virtude pressupõe vitória e glória diante de um quadro adverso, como por exemplo de uma guerra onde se deseja  vencer e receber suas glórias. A ideia é que todo e qualquer governo é um desafio que envolve a possibilidade de perda. Se o governante aceitar o desafio de governar, então ele deverá entrar desejando ser vitorioso. Um governo sem um "desejo de governo" é um governo frágil e anêmico cuja tendência é entrar em colapso.

 Por outro lado, Maquiavel nos ensina que é importante a sorte (fortuna) enquanto estamos à frente de um governo. Porém, essa sorte será  inútil se ela aparecer para o governante errado, ou seja, aquele que não tem sede de vitória. Será apenas uma oportunidade que aparece e se perde imediatamente.

Política e Religião (reino dos homens x reino de Deus)


Seguindo a lógica anterior, de que decisões políticas não devem ser pautadas pelo bem e pelo mal, mas sim pelo parâmetro do fortalecimento ou enfraquecimento do poder, Maquiavel nos ensina que não é papel da política ser transcendente, ou seja, buscar a salvação eterna nos braços de Deus. Segundo o filósofo, se a religião cuida de aspectos relativos ao céu, a política cuida de aspectos relativos à terra, por isso ela é imanente.

De forma simplificada, isso significa dizer que a política é mundana pois é a partir dela (e não somente das leis) que a vida comum  entre as pessoas torna-se viável, sendo o governante um mediador dessas relações (reino dos homens). O poder é mundano, pois ele não se estende após a morte. 

Deste modo o lugar do poder político é aqui, e é aqui que as coisas se desenvolvem e entram em conflito. Assim, seguindo esta linha de pensamento, um bom político precisa ser virtuoso e não bonzinho. O governante não deve governar esperando ir para o céu através de suas "boas vontades", seu objetivo deve ser só um: uma  maior permanência no poder, custe o que custar.

Referência:

MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Coleção Os pensadores.

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