A luta das duas
espadas foi formulada teoricamente por São Bernardo de Claraval, no século XII,
e representa o acirramento do confronto entre os dois poderes, o espiritual e o
temporal. Se cabe aos reis cuidar dos corpos e à Igreja a salvação da alma,
esta última tarefa é superior e não se deve poupar aqueles que praticam delitos
contra a moral cristã, atribuindo-se o direito de punição aos ofensores. Quando
se trata de reis, pode caber até a deposição, o que era possível na medida em
que o papa, ao excomungar um rei, desobrigava os fiéis do dever de fidelidade.
Aliás, isso já tinha acontecido um século antes, a propósito da "querela das investiduras", quando o papa Gregório VII passou a combater a investidura dos bispos feita pelo poder laico, uma vez que proliferava a prática de reis distribuirem igrejas conforme suas conveniências. Ao ser enfrentado por Henrique IV, rei da Germânia, o papa o ameaçou com a excomunhão, obrigando-o a implorar perdão por três dias, humildemente descalço, às portas do castelo papal de Canossa.
No século XIII, os choques entre Frederico II e o papa Inocêncio IV e, no final do mesmo século, entre Filipe, o Belo, da França, e o papa Bonifácio VIII indicam as tentativas dos reis de recusarem a interferência religiosa nos assuntos de política.
No final do século XIV, o Grande Cisma acentua a divergência e a tentativa do Estado de firmar sua soberania, O teólogo inglês Wyclif defende a idéia da Igreja nacional, traduz a Bíblia para o inglês e recusa a intromissão do papado. Essas divergências culminam no século XVI com a Reforma protestante.
Gravura de São Thomás de Aquino, filósofo da baixa Idade Média |
Santo Tomás de Aquino (1225-1274) foi o maior representante
da escolástica, tendência da filosofia medieval influenciada por Aristóteles. O
pensamento tomista se caracteriza por ter realizado a grande síntese do
aristotelismo e as verdades teológicas da fé cristã.
No século XIII os tempos já são outros, com o renascimento das cidades e a intensificação do comércio, o debate das idéias nas universidades, o desafio das heresias. Também Santo Tomás muda o enfoque dos temas políticos e, sob a influência dos textos de Aristóteles, preocupa-se com questões tais como a natureza do poder e das leis e a questão clássica do melhor governo.
Como Aristóteles, Santo Tomas considera que o homem só encontra sua realização na cidade, e o plano político é a instância possível em que o governo não tirânico pode aliar ordem e justiça na busca do bem comum. O poder político, mesmo que seja de origem divina, circunscreve-se na ordem das necessidades naturais do homem enquanto ser social que necessita alcançar seus fins terrenos. Daí que o estudo da política requer o uso da razão natural, não se circunscrevendo apenas ao âmbito da teologia.
No entanto, coerente também com sua visão religiosa do mundo, Santo Tomas conclui que o Estado conduz o homem até certo ponto, quando então se exige o concurso do poder da Igreja, sem dúvida superior, e que cuidará da dimensão sobrenatural do destino humano. Embora ainda mantendo a hierarquia entre as duas instâncias, atenua sem dúvida os excessos da doutrina nascida da "luta das duas espadas".
Preocupado com a questão da tirania, considera que a paz social resulta da unidade do Estado, sendo importante a virtude do governante. Ao abordar as formas de governo, indica suas preferências pela monarquia, desde que "temperada", em que o poder é repartido entre o rei e um grupo de homens especiais escolhidos pela maioria: "primeiro, um chefe único, escolhido por sua virtude, que esteja à frente de todos; em seguida, abaixo dele, alguns chefes escolhidos por sua virtude; sendo a autoridade de alguns, a deles nem por isso deixa de ser a autoridade de todos, visto que podem ser escolhidos na totalidade o povo, ou realmente o são".1
1. retirado do blog http://epigrafeshistoricas.blogspot.com.br
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