terça-feira, 2 de agosto de 2016

2º ano :: 3º bim :: Aula 3 :: A cidade dos homens e a cidade de Deus

 

Gravura do filósofo medieval Santo Agostinho
Gravura do filósofo medieval Santo Agostinho
Ao contrário das concepções da Antiguidade, em que a função do Estado é assegurar a vida boa, na Idade Média predomina a concepção negativa do Estado. Isto porque o homem teria uma natureza sujeita ao pecado e ao descontrole das paixões, o que exige vigilância constante, cabendo ao Estado intimidar os homens para que ajam retamente.

Daí podermos observar a estreita ligação entre política e moral, com a exigência de se formar o governante justo, não-tirânico, que por sua vez consiga obrigar, muitas vezes pelo medo, à obediência aos princípios da moral cristã.
Portanto, na Idade Média configuram-se duas instâncias de poder: a do Estado e a da Igreja. O Estado é de natureza secular, temporal, voltado para as necessidades mundanas e caracteriza-se pelo exercício da força física. A Igreja é de natureza espiritual, voltada para os interesses da salvação da alma e deve encaminhar o rebanho para a verdadeira religião por meio da força da educação e da persuasão.
A tensão entre os dois poderes assumiu diferentes expressões no decorrer do período, criando inúmeros conflitos.
Ainda no final da Antiguidade, próximo à queda do Império Romano, viveu Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona. Na obra A cidade de Deus trata do discutido Tema das duas cidades, a "cidade de Deus" e a "cidade terrestre", que não devem ser entendidas         simplesmente como referência ao reino de Deus que se sucede à vida terrena, mas à coexistência dos dois planos de existência na vida de cada um. Ou seja, todos têm uma dimensão terrena que se refere à sua história natural, à moral, às necessidades materiais e que diz respeito a tudo que é perecível e temporal. Outra dimensão é a celeste, que corresponde à comunidade dos cristãos, inspirada no amor a Deus e que vive da fé.
Para Santo Agostinho, a relação entre as duas dimensões é de ligação e não de oposição, mas a repercussão do seu pensamento, à revelia do autor, desemboca na doutrina chamada agostinismo político, que marca toda a Idade Média e significa o confronto entre o poder do Estado e o da Igreja, considerando a superioridade do poder espiritual sobre o temporal.

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