Gravura do filósofo medieval Santo Agostinho |
Daí podermos observar a estreita ligação entre política e
moral, com a exigência de se formar o governante justo, não-tirânico, que por
sua vez consiga obrigar, muitas vezes pelo medo, à obediência aos princípios da
moral cristã.
Portanto, na Idade Média configuram-se duas instâncias de
poder: a do Estado e a da Igreja. O Estado é de natureza secular, temporal,
voltado para as necessidades mundanas e caracteriza-se pelo exercício da força
física. A Igreja é de natureza espiritual, voltada para os interesses da
salvação da alma e deve encaminhar o rebanho para a verdadeira religião por
meio da força da educação e da persuasão.
A tensão entre os dois poderes assumiu diferentes expressões
no decorrer do período, criando inúmeros conflitos.
Ainda no final da Antiguidade, próximo à queda do Império
Romano, viveu Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona. Na obra A cidade de
Deus trata do discutido Tema das duas cidades, a "cidade de Deus" e a
"cidade terrestre", que não devem ser entendidas simplesmente como referência ao reino
de Deus que se sucede à vida terrena, mas à coexistência dos dois planos de
existência na vida de cada um. Ou seja, todos têm uma dimensão terrena que se
refere à sua história natural, à moral, às necessidades materiais e que diz
respeito a tudo que é perecível e temporal. Outra dimensão é a celeste, que
corresponde à comunidade dos cristãos, inspirada no amor a Deus e que vive da
fé.
Para Santo Agostinho, a relação entre as duas dimensões é de
ligação e não de oposição, mas a repercussão do seu pensamento, à revelia do
autor, desemboca na doutrina chamada agostinismo político, que marca toda a
Idade Média e significa o confronto entre o poder do Estado e o da Igreja,
considerando a superioridade do poder espiritual sobre o temporal.
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