quarta-feira, 31 de agosto de 2016

2º ANO :: 3º Bim :: aula 5 :: A luta da duas espadas e a Concepção Tomista de Estado


        A luta das duas espadas foi formulada teoricamente por São Bernardo de Claraval, no século XII, e representa o acirramento do confronto entre os dois poderes, o espiritual e o temporal. Se cabe aos reis cuidar dos corpos e à Igreja a salvação da alma, esta última tarefa é superior e não se deve poupar aqueles que praticam delitos contra a moral cristã, atribuindo-se o direito de punição aos ofensores. Quando se trata de reis, pode caber até a deposição, o que era possível na medida em que o papa, ao excomungar um rei, desobrigava os fiéis do dever de fidelidade.
       
     Aliás, isso já tinha acontecido um século antes, a propósito da "querela das investiduras", quando o papa Gregório VII passou a combater a investidura dos bispos feita pelo poder laico, uma vez que proliferava a prática de reis distribuirem igrejas conforme suas conveniências. Ao ser enfrentado por Henrique IV, rei da Germânia, o papa o ameaçou com a excomunhão, obrigando-o a implorar perdão por três dias, humildemente descalço, às portas do castelo papal de Canossa.
               
       No século XIII, os choques entre Frederico II e o papa Inocêncio IV e, no final do mesmo século, entre Filipe, o Belo, da França, e o papa Bonifácio VIII indicam as tentativas dos reis de recusarem a interferência religiosa nos assuntos de política.
      
         No final do século XIV, o Grande Cisma acentua a divergência e a tentativa do Estado de firmar sua soberania, O teólogo inglês Wyclif defende a idéia da Igreja nacional, traduz a Bíblia para o inglês e recusa a intromissão do papado. Essas divergências culminam no século XVI com a Reforma protestante.
Gravura de São Thomás de Aquino, filósofo da baixa Idade Média
    Santo Tomás de Aquino (1225-1274) foi o maior representante da escolástica, tendência da filosofia medieval influenciada por Aristóteles. O pensamento tomista se caracteriza por ter realizado a grande síntese do aristotelismo e as verdades teológicas da fé cristã.

     No século XIII os tempos já são outros, com o renascimento das cidades e a intensificação do comércio, o debate das idéias nas universidades, o desafio das heresias. Também Santo Tomás muda o enfoque dos temas políticos e, sob a influência dos textos de Aristóteles, preocupa-se com questões tais como a natureza do poder e das leis e a questão clássica do melhor governo.

     Como Aristóteles, Santo Tomas considera que o homem só encontra sua realização na cidade, e o plano político é a instância possível em que o governo não tirânico pode aliar ordem e justiça na busca do bem comum. O poder político, mesmo que seja de origem divina, circunscreve-se na ordem das necessidades naturais do homem enquanto ser social que necessita alcançar seus fins terrenos. Daí que o estudo da política requer o uso da razão natural, não se circunscrevendo apenas ao âmbito da teologia.

     No entanto, coerente também com sua visão religiosa do mundo, Santo Tomas conclui que o Estado conduz o homem até certo ponto, quando então se exige o concurso do poder da Igreja, sem dúvida superior, e que cuidará da dimensão sobrenatural do destino humano. Embora ainda mantendo a hierarquia entre as duas instâncias, atenua sem dúvida os excessos da doutrina nascida da "luta das duas espadas".

     Preocupado com a questão da tirania, considera que a paz social resulta da unidade do Estado, sendo importante a virtude do governante. Ao abordar as formas de governo, indica suas preferências pela monarquia, desde que "temperada", em que o poder é repartido entre o rei e um grupo de homens especiais escolhidos pela maioria: "primeiro, um chefe único, escolhido por sua virtude, que esteja à frente de todos; em seguida, abaixo dele, alguns chefes escolhidos por sua virtude; sendo a autoridade de alguns, a deles nem por isso deixa de ser a autoridade de todos, visto que podem ser escolhidos na totalidade o povo, ou realmente o são".1

1. retirado do blog http://epigrafeshistoricas.blogspot.com.br

terça-feira, 2 de agosto de 2016

2º ANO :: 3º Bim :: aula 4 :: Atividade avaliativa AV1


Atividade no caderno

1.    Após a queda do Império Romano qual foi a única instituição que se manteve perdurando por    séculos ?

2.    Qual era a configuração política na alta Idade Média (início)?


3.    Qual o papel do Estado nesse período?


4.    Qual o papel da Igreja no mesmo período ?


5.    Qual era o argumento que justificava a existência do Estado neste período ? 


6.    Quais foram of frutos da Idade Média à posteridade ?


7.    Explique a abordagem de Sto Agostinho sobre o Livre arbítrio.


8.    O que é liberdade e sentido de vida em Sto Agostinho?


9.   Explique o conceito de Bem Comum em Aristóteles.


10. Para Aristóteles, qual forma de governo que resultava do equilíbrio entre o poder da elite intelectual e o poder do povo  ?

2º ano :: 3º bim :: Aula 3 :: A cidade dos homens e a cidade de Deus

 

Gravura do filósofo medieval Santo Agostinho
Gravura do filósofo medieval Santo Agostinho
Ao contrário das concepções da Antiguidade, em que a função do Estado é assegurar a vida boa, na Idade Média predomina a concepção negativa do Estado. Isto porque o homem teria uma natureza sujeita ao pecado e ao descontrole das paixões, o que exige vigilância constante, cabendo ao Estado intimidar os homens para que ajam retamente.

Daí podermos observar a estreita ligação entre política e moral, com a exigência de se formar o governante justo, não-tirânico, que por sua vez consiga obrigar, muitas vezes pelo medo, à obediência aos princípios da moral cristã.
Portanto, na Idade Média configuram-se duas instâncias de poder: a do Estado e a da Igreja. O Estado é de natureza secular, temporal, voltado para as necessidades mundanas e caracteriza-se pelo exercício da força física. A Igreja é de natureza espiritual, voltada para os interesses da salvação da alma e deve encaminhar o rebanho para a verdadeira religião por meio da força da educação e da persuasão.
A tensão entre os dois poderes assumiu diferentes expressões no decorrer do período, criando inúmeros conflitos.
Ainda no final da Antiguidade, próximo à queda do Império Romano, viveu Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona. Na obra A cidade de Deus trata do discutido Tema das duas cidades, a "cidade de Deus" e a "cidade terrestre", que não devem ser entendidas         simplesmente como referência ao reino de Deus que se sucede à vida terrena, mas à coexistência dos dois planos de existência na vida de cada um. Ou seja, todos têm uma dimensão terrena que se refere à sua história natural, à moral, às necessidades materiais e que diz respeito a tudo que é perecível e temporal. Outra dimensão é a celeste, que corresponde à comunidade dos cristãos, inspirada no amor a Deus e que vive da fé.
Para Santo Agostinho, a relação entre as duas dimensões é de ligação e não de oposição, mas a repercussão do seu pensamento, à revelia do autor, desemboca na doutrina chamada agostinismo político, que marca toda a Idade Média e significa o confronto entre o poder do Estado e o da Igreja, considerando a superioridade do poder espiritual sobre o temporal.