terça-feira, 26 de maio de 2015

2º ano :: 2º bim :: Aula 2 :: Sócrates

O cenário político que se configurou em Atenas em meados séc IV a.C foi permeado por jogos de interesses, corrupção e a supremacia política da aristocracia e seus interesses sobre os interesses da maioria (povo comum, mulheres, estrangeiros e escravos). Na verdade, durante muito tempo, esta maioria não era considerada cidadão grego, logo não faziam parte dos primeiros passos da democracia como forma de governo do povo. Contudo, esta maioria, sobretudo os escravos, produziam riquezas, porém estas eram administradas por  grupos aristocráticos que detinham o poder político. 

Esta maneira de fazer política tinha forte influência da filosofia sofista, como você pôde conferir na aula anterior também disponivel aqui neste blog, que sobrepõe a importância das convenções e dos acordos à ideia de verdade. Desta maneira, não há certo ou errado, tudo são convenções humanas. E na política esta lógica tem perfeito encaixe. Traduzindo, é como se o político que age sob esta lógica dissesse:

"Se está bom para mim e para meu grupo de conselheiros e parceiros, então está bom para o povo."

Se por um lado os sofistas acertam ao enfatizar o poder que os acordos podem ter, isso gera, paralelamente, um fortalecimento da crise política. Devemos lembrar que a palavra política vem de pólis que em grego significa cidade e que  nos leva a pensar em coletividade ou comunidade, considerando que as cidades (exceto as fantasmas) reúnem abrigam pessoas. Deste modo, ao ignorarmos esse sentimento de coletividade e conduzirmos a política a partir de nós mesmos, não estaremos fazendo política. 

E foi justamente isso que deixou Sócrates indignado. Ele era um filósofo conhecido da população local pela sua simplicidade e amor à sabedoria. Gostava de conversar com as pessoas e despertar nelas o senso questionador não apenas voltado ao mundo, mas sobretudo a si mesmo. A conhecida frase:"Só sei que nada sei" atribuída à Sócrates representa isso: uma tomada de consciência da nossa condição de ignorância rumo ao conhecimento. Nestas conversas com as pessoas ele, entre outras coisas, defendia seu ponto de vista político a partir da pergunta:




Como alguém pode querer conduzir a política (algo que é para todos) sem acreditar na ideia de verdade ? Sem acreditar que o fazer o bem político é possível considerando que este bem é verdadeiro?


Junto a esta pergunta Sócrates poderia fazer mais outra:
Resumindo, como alguém que não exerce a busca pelo conhecimento e logo não eleva seu espírito pode querer governar ?

Um governo de ignorantes, ou seja, aqueles que ignoram a verdade que se dá através do conhecimento, não pode gerar uma boa política para seu povo. Sócrates é bem direto nesse ponto ao afirmar que só erramos porque queremos estar no erro já que a saída do erro é a busca pela verdade, não uma verdade religiosa, mas a verdade que nos aparece a partir do uso de nossa razão.

Sócrates defende a ideia de que ninguém faz o mal voluntariamente, ou seja, ninguém é mal por natureza, só fazemos o mal porque somos ignorantes, e continuaremos fazendo esse mal se permancermos na ignorância e isso se torna algo grave quando se trata de um político ignorante, simplesmente pelo fato de que este cidadão irá, a partir das suas decisões pautadas em sua ignorância, definir o rumo das vidas de todos habitantes da cidade.

O pensamento do filósofo pode ser classificado em três grandes ideias:

a) a crítica aos sofistas; (de como a orientação filosófico-política deles representa um fracasso)
b) a arte de perguntar; (de questionar as pessoas e de fazê-las se questionar quanto aos problemas)
c) a consciência do Homem (consciência da sua condição de ignorante rumo ao conhecimento)

Sobre sua morte

Vou colar aqui um texto do site Infoescola que fala de forma clara como foi o processo que levou o filósofo à morte:

"Casado com Xantipa, nunca priorizou sua família, sempre entregue ao exercício dos dons de que era dotado. Sua essência crítica e justa o levava a crer que tinha uma importante missão, a de multiplicar seres igualmente dotados de sabedoria, probidade, moderação. Este caminho o levaria a se chocar com a cúpula dos governantes, na qual conquistaria inimigos e insatisfação. A contundência de sua fala, o rigor de sua personalidade, seu viés crítico e mordaz, suas idéias muitas vezes opostas à estrutura social vigente e o método educativo de que se valia, geraram-lhe antagonistas no seio da estrutura política que então dominava a Grécia.

O comportamento de Sócrates desencadeou em sua prisão, acusado por Mileto, Anito e Licon, de perverter a juventude e renegar os deuses cultuados pelos gregos, trocando-os por outros. Recebendo a oportunidade de advogar a seu favor, diante do tribunal e dos homens, ele se recusou, pois não pretendia renunciar ao que acreditava e ao que pregava a seus conterrâneos. Ele preferia ser condenado pela justiça terrena e preservar, diante da imortalidade, a verdade de sua alma. Assim, optou pela morte, decretada por seus juízes, através do voto da maioria."
http://www.infoescola.com/filosofia/socrates/






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