quarta-feira, 27 de maio de 2015

2º Ano :: 2º Bim :: A política em Platão (aulas 4 e 5)


O perfil  da politica na época de Platão 

Sobre a política de Platão, podemos dizer que ela segue sua vontade maior que é inspirada no seu idealismo, ou seja, no ideal de uma política perfeita como remédio para um mundo imperfeito. E o contexto político em que vivia Platão favoreceu mais ainda essa ideia, pois o quadro era de corrupção, de interesses particulares em detrimento dos coletivo e de valorização do discurso no lugar da resolução dos problemas da cidade.

Sob influência dos professores sofistas, os políticos deste contexto orientavam suas práticas  para o convencimento da maioria através de uma boa técnica oratória. O que hoje em dia chamamos de "lábia", como por exemplo"fulando tem uma lábia incrivel, convenceu até o diretor da escola de que ele estava doente", etc...
Não há problemas em tentar convencer as pessoas sobre algo, mas quando isso ocorre no campo político de um modo geral é ruim, pois o foco passa a ser o assunto do problema e não a resolução do problema em si. Assim, é comum vermos políticos falando sobre as mesmas coisas (educação, saúde, etc), mas uma minoria trabalha nas soluções desses problemas.

Isso Platão criticou já na sua época (o que parece mostrar que algumas coisas não mudaram tanto assim de lá pra cá) e criticou também a lógica da educação dos sofistas, onde quem tem mais paga mais caro pelo melhor professor. Em pouco tempo havia bons oradores (bons de lábia) e nenhum político para cuidar e resolver os problemas de forma racional, pois como dissemos antes, essa formação limitada àqueles que poderiam pagar não formava políticos e sim oradores. E se mesmo assim fossem considerados políticos, seriam políticos ruins pois seus interesses eram os seus e não os de todos.

Para Platão, somente uma concepção política perfeita resolveria os problemas do mundo. Para isso, ele pensou que esta política ideal deveria começar pela educação, pois para ele é impossivel que haja uma boa atitude sem que esta atitude não esteja pautada pelo conhecimento. E é na escola que se desenvole o saber.

A Escola em Platão

Todo o projeto político de Platão era baseado na justiça, porque a justiça está conectada com a verdade, pois toda justiça deve ser verdadeira, caso contrário torna-se injustiça. Desta maneira, não há justiça sem verdade e não há Bem Comum sem justiça, portanto são três conceitos conectados entre si.




A escola não poderia ser diferente da ideia apresentada acima, ao contrário, é a partir da escola que a justiça, enquanto conceito de equilibrio da igualdade humana, deve começar a ser trabalhada desde cedo. Assim, o estudante mergulha em um ambiente que propicia a justiça, pois não há diferenças sociais entre os alunos que frequentam essa escola que foi pensada por Platão como base formadora para o homem. 
O filósofo defendia a ideia de que todos deveriam ter acesso ao conhecimento, sejam ricos ou pobres. E ao longo da formação aqueles que se destacassem dentre os demais seriam certamente os ou o governante da cidade, não por convencer as pessoas através de uma fala bonita e convincente, mas por deter o conhecimento e uma clara noção da ideia de Verdade, Justiça e Bem Comum.


Uma ilustração simplificada pode nos mostrar como funcionava a hieraquia social da cidade ideal pensada por Platão. Esta hierarquia era pautada pelo destaque do aluno ao longo de sua formação. Os que se destacavam mais governavam, os que se destacavam menos iriam cuidar da defesa e os demais cuidariam da manutenção da cidade.  Apesar do nome "artesão", não era apenas arte que era produzida e sim tudo aquilo relativo à manutenção da cidade, como produção de vasos, roupas, acessórios. Agricultores cuidavam da produção de alimentos e construtores construiam e reformavam estruturas. Note que todos estes que ocupavam o 3º lugar na hierarquia se ocupavam com trabalhos manuais, enquanto que os primeiros se ocupavam com trabalhos intelectuais, uma caracteristica tipica do pensamento de Platão.


1º - Sábio    >> Governo da cidade
2º - Exército >> Proteção da cidade
3º - Artesão  e agricultores e construtores>> Manutenção da cidade


Formas de governo em Platão (aula 2)





Platão escreveu ainda sobre diversos assuntos como a melhor forma de governo e sobre o Estado, para ele a sociedade deveria ser dividida em três partes que correspondem e se relacionam com a alma dos indivíduos. 

A primeira parte é a vontade ou o apetite e corresponde aos trabalhadores braçais. A segunda parte é a do espírito e é relacionada aos guerreiros e aventureiros que tem que ser destemidos, fortes e espirituosos. A terceira parte é reservada aos filósofos e aos governantes, é a parte da razão e é reservada aos inteligentes e racionais, qualidades essas mais apropriadas para indivíduos que vão tomar decisões representando toda sociedade. É portanto a razão e a sabedoria que devem governar, os filósofos devem governar como reis ou os reis devem ser filósofos para governar com racionalidade.
           
 Em seu escrito A República, Platão descreve a maneira que se pode passar de um regime político a outro e classifica os regimes de governo em cinco formas: 

1- O governo dos filósofos(monarquia) ou aristocracia que ele define como o governo dos mais capazes. Esse é para ele o regime perfeito pois corresponde ao ideal do rei-filósofo que reúne poder e sabedoria em uma só pessoa. 

Esse regime é seguido por quatro regimes imperfeitos

2- A timocracia, regime fundamentado sobre a honra; 
3- Oligarquia, fundamentado sobre a riqueza; 
4- Democracia que se fundamenta sobre a idéia de igualdade e 
5- Tirania que se funda no desejo do tirano e representa o fim da política porque nele são abolidas as leis.




Fontes: http://www.filosofia.com.br/historia_show.php?id=28

terça-feira, 26 de maio de 2015

1º ano :: 2º bim :: (aula 4) Uma breve abordagem sobre relativismo

O relativismo surge quando confunde-se uma mera opinião com o conhecimento. Vamos considerar que opinião todos nós temos, já o conhecimento alguns têm. A opinião é uma impressão que você tem sobre algo, um pensamento não aprofundado sobre algo, é algo muito pessoal e consequentemente subjetivo. 

Por exemplo quando alguém chega perto de você e diz que o dia está bonito. Isso é uma opinião, uma vez que o dia pode "não estar tão bonito assim", de repente a pessoa que disse isso apenas disse porque está apaixonada e acha tudo bonito. 

O conhecimento dá trabalho, não basta abrir a janela de casa e dizer que já sabe pois bastou olhar pra bela paisagem. O conhecimento implica em experiência, tentativa e erro, leitura, mais tentativas, consultas, conhecimento implica inicialmente mais em ouvir do que em falar. 

Conhecer implica em uma atitude de querer saber sobre as coisas, de como elas existem e do porquê de serem como são. Enfim, dá um pouco mais de trabalho. Porém, quando você expõe o conhecimento para seus colegas e familiares, ele é algo mais confiável, mais sólido e menos gelatinoso comparado à mera opinião que como eu disse, todo mundo tem.

Agora quando, por alguma razão, transforma-se opinião em conhecimento nós temos um problema, melhor dizendo, vários, pois nunca se tem uma opinião apenas, sempre se tem várias opiniões e quando confundidas com conhecimento se erguem como verdades, ou como eu chamo de pequenas verdades, pois cada um que é portador de uma opinião se acha dono da "sua" verdade. Deste modo quando alguém diz, "eu acho que o dia está bonito" a outra pessoa pode dizer "eu acho que não está" aí surge a pergunta: quem está certo ? A resposta mais adequada seria ninguém, pois estamos diante de opiniões. Mas cada vez mais pessoas confundem opinião (doxa) com conhecimento (episteme).

Aí você leitor(a) pode perguntar: Então no conhecimento não há espaço para minha opinião ??

Claro que há, mas agora não será uma mera opinião e sim uma opinião equilibrada e sustentada por conhecimentos sólidos que você buscou. Vale lembrar que na prova de redação do ENEM é cobrado ao candidato que exponha sua opinião, mas não de forma bruta e superficial e sim de forma elaborada e aprofundada, por isso é importante que o candidato leia sobre assuntos que estão presentes na atualidade, sua leitura vai evitar que você fale bobagens ou repita falsas ideias de outras pessoas.


Obviamente nós temos o direito de falar bobagens, de errar nas nossas análises e de interpretar errado determinadas situações, somos humanos e erramos, mas não podemos transformar um equivoco em regra geral, pois podemos com isso acabar disseminando o ódio e a ignorância.

Pense que muitas pessoas consideram que TODO PARAENSE É LADRÃO, isso é uma opinião que não condiz com a realidade, logo não é um conhecimento sólido, você pode ate repetir isso em várias situações, mas em algum momento alguém (paraense ou não) vai se irritar e questionar sua opnião, perguntando de onde você tirou essa ideia, esse é o momento que a casa da mera opinião cai, pois não há bases de sustentação.

Finalizando, o grande problema do relativismo é que quando as opiniões se tornam verdades na mente de alguns, acaba o diálogo e quando o diálogo acaba quem perde é o conhecimento e quem ganha é a ignorância, pois o diálogo é um dos meios eficazes de nós aprendermos mais sobre as coisas, como eu disse antes, mais ouvindo de quem tem a falar do que falando nada com nada.


2º ano :: 2º bim :: Aula 2 :: Sócrates

O cenário político que se configurou em Atenas em meados séc IV a.C foi permeado por jogos de interesses, corrupção e a supremacia política da aristocracia e seus interesses sobre os interesses da maioria (povo comum, mulheres, estrangeiros e escravos). Na verdade, durante muito tempo, esta maioria não era considerada cidadão grego, logo não faziam parte dos primeiros passos da democracia como forma de governo do povo. Contudo, esta maioria, sobretudo os escravos, produziam riquezas, porém estas eram administradas por  grupos aristocráticos que detinham o poder político. 

Esta maneira de fazer política tinha forte influência da filosofia sofista, como você pôde conferir na aula anterior também disponivel aqui neste blog, que sobrepõe a importância das convenções e dos acordos à ideia de verdade. Desta maneira, não há certo ou errado, tudo são convenções humanas. E na política esta lógica tem perfeito encaixe. Traduzindo, é como se o político que age sob esta lógica dissesse:

"Se está bom para mim e para meu grupo de conselheiros e parceiros, então está bom para o povo."

Se por um lado os sofistas acertam ao enfatizar o poder que os acordos podem ter, isso gera, paralelamente, um fortalecimento da crise política. Devemos lembrar que a palavra política vem de pólis que em grego significa cidade e que  nos leva a pensar em coletividade ou comunidade, considerando que as cidades (exceto as fantasmas) reúnem abrigam pessoas. Deste modo, ao ignorarmos esse sentimento de coletividade e conduzirmos a política a partir de nós mesmos, não estaremos fazendo política. 

E foi justamente isso que deixou Sócrates indignado. Ele era um filósofo conhecido da população local pela sua simplicidade e amor à sabedoria. Gostava de conversar com as pessoas e despertar nelas o senso questionador não apenas voltado ao mundo, mas sobretudo a si mesmo. A conhecida frase:"Só sei que nada sei" atribuída à Sócrates representa isso: uma tomada de consciência da nossa condição de ignorância rumo ao conhecimento. Nestas conversas com as pessoas ele, entre outras coisas, defendia seu ponto de vista político a partir da pergunta:




Como alguém pode querer conduzir a política (algo que é para todos) sem acreditar na ideia de verdade ? Sem acreditar que o fazer o bem político é possível considerando que este bem é verdadeiro?


Junto a esta pergunta Sócrates poderia fazer mais outra:
Resumindo, como alguém que não exerce a busca pelo conhecimento e logo não eleva seu espírito pode querer governar ?

Um governo de ignorantes, ou seja, aqueles que ignoram a verdade que se dá através do conhecimento, não pode gerar uma boa política para seu povo. Sócrates é bem direto nesse ponto ao afirmar que só erramos porque queremos estar no erro já que a saída do erro é a busca pela verdade, não uma verdade religiosa, mas a verdade que nos aparece a partir do uso de nossa razão.

Sócrates defende a ideia de que ninguém faz o mal voluntariamente, ou seja, ninguém é mal por natureza, só fazemos o mal porque somos ignorantes, e continuaremos fazendo esse mal se permancermos na ignorância e isso se torna algo grave quando se trata de um político ignorante, simplesmente pelo fato de que este cidadão irá, a partir das suas decisões pautadas em sua ignorância, definir o rumo das vidas de todos habitantes da cidade.

O pensamento do filósofo pode ser classificado em três grandes ideias:

a) a crítica aos sofistas; (de como a orientação filosófico-política deles representa um fracasso)
b) a arte de perguntar; (de questionar as pessoas e de fazê-las se questionar quanto aos problemas)
c) a consciência do Homem (consciência da sua condição de ignorante rumo ao conhecimento)

Sobre sua morte

Vou colar aqui um texto do site Infoescola que fala de forma clara como foi o processo que levou o filósofo à morte:

"Casado com Xantipa, nunca priorizou sua família, sempre entregue ao exercício dos dons de que era dotado. Sua essência crítica e justa o levava a crer que tinha uma importante missão, a de multiplicar seres igualmente dotados de sabedoria, probidade, moderação. Este caminho o levaria a se chocar com a cúpula dos governantes, na qual conquistaria inimigos e insatisfação. A contundência de sua fala, o rigor de sua personalidade, seu viés crítico e mordaz, suas idéias muitas vezes opostas à estrutura social vigente e o método educativo de que se valia, geraram-lhe antagonistas no seio da estrutura política que então dominava a Grécia.

O comportamento de Sócrates desencadeou em sua prisão, acusado por Mileto, Anito e Licon, de perverter a juventude e renegar os deuses cultuados pelos gregos, trocando-os por outros. Recebendo a oportunidade de advogar a seu favor, diante do tribunal e dos homens, ele se recusou, pois não pretendia renunciar ao que acreditava e ao que pregava a seus conterrâneos. Ele preferia ser condenado pela justiça terrena e preservar, diante da imortalidade, a verdade de sua alma. Assim, optou pela morte, decretada por seus juízes, através do voto da maioria."
http://www.infoescola.com/filosofia/socrates/






1º Ano :: 2º Bim :: Aula 1 :: Filosofia não é só teoria

A filosofia é o amor enquanto busca pelo conhecimento, mas não um amor que se resume aos romances, e sim ao amor pela verdade, pela justiça e pelo esclarecimento. 



O conhecimento não se desenvolve a partir de falsas ideias, ao contrário, o que se desenvolve a partir de falsas ideias é a ignorância e a brutalidade que podem tomar grandes proporções como por exemplo o nazismo na metade do século XX, ideologia que tem adeptos até hoje.



Exemplos de falsas ideias:



Todo índio é preguiçoso

Todo artista usa drogas

Nenhum homem é confiável

Todo político é bandido

A política não serve pra nada

Todo comerciante é um explorador

Quem quer ganhar dinheiro quer na verdade explorar


Todas essas "verdades" causam impactos na vida real das pessoas. Por isso que a filosofia é uma prática que reflete diretamente na vida, no cotidiano das pessoas, pois combate falsas ideias as quais as pessoas acreditam.



Uma falsa ideia – que gera ignorância e brutalidade – geralmente se desenvolve em ambientes autoritários, desiguais e com pouca informação, ou seja, espaços sem possibilidade de busca para verdades. Historicamente espaços regidos de forma autoritária aniquilam aqueles que buscam o conhecimento, pois:



Conhecimento e Ignorância não combinam.


Vejamos mais alguns exemplos REAIS



"Inocente apanha em bairro do Guarujá-SP

Segundo marido da vítima, um porteiro de 40 anos, a esposa tem problemas psicológicos, mas nunca faz agrediu nenhuma criança. “Jogaram um boato na internet e confundiram ela com outra pessoa. Não dá para imaginar que acontecem situações como essa. Ela tem transtorno bipolar, mas tem ido sempre ao médico e toma toda a medicação receitada"

Pena de morte não existe em nosso país, mas pessoas que se auto intitulam Justiceiros acabam por condenar inocentes a morte sem nenhum compromisso com a verdade. Justiça com as próprias mãos jamais será algo "compreensível", sejamos consciente para que novos crimes como este não volte a acontecer."
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Jovem de 15 anos, Amanda Todd comete suicídio após sofrer bullying



E por que buscamos a verdade ? 
Buscamos a verdade porque acreditamos que com ela podemos tornar as coisas menos injustas já que a ignorância gera falsas conclusões e falsas conclusões geram sempre injustiça e sofrimento.

 Desta forma, a filosofia não é um mero lenga lenga teórico sobre as coisas, ao contrário, a filosofia junto com outras áreas do saber que vieram dela são uma prática que altera o mundo, que muda o curso das coisas que abre a possibilidade de uma vida com novos significados, e talvez, por isso, com menos sofrimento.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

2º ano :: 2º Bim Aula 1 :: Sofistas e uma Falsa Democracia ?

Link com o 1º Bimestre

O conhecimento sobre a natureza e seu estabelecimento como princípio de todas as coisas realizada pelos pré-socráticos abriu espaço para o surgimento da filosofia. É que as respostas aos acontecimentos naturais eram atribuídas aos deuses gregos e suas vontades. 


Deste modo, acreditava-se que um raio que cai do céu à terra, um rio que desce a montanha, um canto de um pássaro, a relação noite e o dia, etc. Tudo isso acontecia segundo a vontade dos deuses, ou seja, suas vontades repercutiam aqui no mundo que vivemos.


Assim, não havia por que buscar sentido na natureza uma vez que tudo o que acontecia era resultado da vontade de algum deles, não havia sentido na lógica da natureza e sim na lógica  divina. Porém, os primeiros passos da filosofia foram o de buscar respostas da natureza na própria natureza. 


Não mais submeter a natureza à vontade alheia, pois no entender dos primeiros filósofos, como vimos no 1º bim, era de que a natureza fornece todas as pistas necessárias para compreendê-la, ou seja, ela guarda uma verdade que pode ser compreendida pela razão. 

O que podemos concluir dessa primeira fase da filosofia é que há uma verdade na natureza que pode ser captada a partir de sua compreensão, ou seja, compreender a natureza é compreender sua VERDADE. Este foi o principal legado dos Pré-socráticos que em Parmênides ganha o nome de SER e em Heráclito de Logos. 

Sofistas

Os Sofistas (480 a.C.-370 a.C.) eram professores que andavam pelo território grego indo de cidade em cidade oferecendo seus serviços. Ensinavam a filosofia de um modo diferente, diminuindo a VERDADE que os pré-socráticos deixaram como legado à condição de "pequena verdade", ou "verdade artificial" pois era criada pelo homem. Assim, tudo que fosse considerado verdade era inventado pelo homem para obter poder.



Filosofia Sofística: a ausência da Verdade Natural.

"O homem é a medida de todas as coisas", isso significa que nós estabelecemos o que é e o que não é verdadeiro, não havendo assim uma "verdade oculta" na natureza a ser decifrada pelo conhecimento. Tudo o que é foi inventado pelo homem é a máxima do pensamento de Protágoras um dos sofista mais importantes.

Seguindo a mesma linha de pensamento, outro sofista importante, Górgias, diz que:

Nada há
Se algo houvesse não poderia ser conhecido
Mesmo que fosse conhecido, não poderia ser comunicado a ninguém

Esta passagem é do Tratado do Não-Ser, onde é possivel perceber uma abordagem filosófica sobre o Nada, presente em todo lugar, inviabilizando o conhecimento e a sua comunicação. Como conhecer algo que não existe ? E como comunicar algo que não existe ?

Contexto Político

Deste modo, a partir do que se sabe sobre os Sofistas, podemos afirmar que essa orientação filosófica acerca do Nada, fortalecia os sofistas a ensinarem a oratória e a retórica aos jovens da cidade que pretendiam ser os futuros politicos. A oratória é a arte de falar bem e a retórica é a arte de falar bem com a intenção de convencer o outro a concordar com você. Os melhores professores sofistas cobravam mais caro para ensinar, logo só pagava quem tinha dinheiro de modo que quem tinha dinheiro acabava falando e se expressando melhor que os demais. Quanto melhor se falava em público, mais gente se convencia, e quanto mais gente convencia, maior a quantidade de seguidores e maior era poder. 

Falsa Democracia ?


  Ora, a democracia é o governo do povo para o povo. Pois democracia vem do grego "demos" que significa povo e de "kratos" que significa povo, poder = democracia = poder do povo.
 
Mas nessa época (Período Clássico que se estende entre 500 e 338 a.C), que se deu após a época das aristocracias de Atenas, não é de se estranhar que mesmo entre pessoas do povo havia aqueles aristocratas remanescentes, ou seja, aqueles que possuiam mais poder aquisitivo que outros. É bobagem imaginar que na democracia grega todos eram iguais, e essa diferença de poder aquisitivo se concretizava na política por aqueles que podiam pagar mais por melhores professores, tornando-se com isso melhores comunicadores e convencendo mais gente.

Seguindo a orientação filosófica sofística de seus mestres de que "nada há e o que há foi inventado" esses políticos desenvolviam uma boa "lábia" e com ela  conseguiam seguidores e consequentemente poder. Daí, esquecer dos reais problemas da cidade e passar a se preocupar com seus próprios problemas era "daqui pra ali".

A política então ficou resumida a quem era mais hábil na arte de falar e convencer do que na resolução dos problemas da cidade que afetam a todos, não que estes não fossem resolvidos, mas havia no ar uma preocupação
maior em obter poder do que uma preocupação em resolver as coisas. E o "poder do povo para o povo" perde aí seu sentido, por isso a pergunta: Uma falsa democracia ? Situação bem semelhante vivenciamos em nosso cenário politico atual mais de dois mil anos depois.

Isso vai incomodar Sócrates, que vai iniciar um posicionamento contrário ao que estava estabelecido neste cenário político de Atenas, algo que veremos a seguir.