Olá pessoal, a compreensão dos conceitos a seguir irão facilitar seu entendimento sobre a origem da filosofia e de certa forma também da ciência, pois como dissemos antes, a filosofia, ao surgir, se parecia mais com a prática científica que conhecemos hoje, seu objeto era a natureza e não necessariamente o ser humano. Vejamos os conceitos.
Mythos
Trata-se de uma narrativa que busca compreender o mundo e os eventos que nele ocorrem a partir de explicações que valorizam aspectos sobrenaturais como possiveis causas. As histórias inventadas não podem ser confundidas com histórias mentirosas. Há um elemento proposital na mentira no sentido de enganar o outro que não há na narrativa mítica. O fato de dizer que pouca chuva ou muita chuva é sinal de bom ou mal humor dos deuses foi apenas uma forma encontrada de tentar responder as coisas, e estas formas estavam diretamente ligadas ao contexto da época. Lembre-se que nossos ancestrais não tinham o Google à disposição, logo o que restava a eles se não inventar respostas ? E além disso a narrativa mítica não acabou, pois até hoje permanece a sensação de que forças sobrenaturais (ou seja, aquelas que não estão na natureza mas agem sobre ela) influenciam nos acontecimentos do mundo, a própria religião segue continuamente esta lógica até os dias de hoje.
Logos
Trata-se da linguagem da razão. O pensamento racional possui características como coerência interna, sentido lógico, solidez e universalidade. Essas características evidenciam um tipo de pensamento que não se desenvolve sobre terrenos frágeis, é necessário uma base sólida para que continue abrindo frente adiante.
Foi justamente esta fragilidade do Mythos que fez o Logos prosperar, pois o Mythos não evidencia nada, sua regra fundamental de funcionamento é a crença de quem toma conhecimento de seu conteúdo. Esta crença é baseada na autoridade de quem diz. Como exemplo disso podemos citar o caso de algumas etnias indígenas que estão perdendo espaço dentro do seu próprio ethos, uma vez que os membros mais jovens de algumas tribos têm, em muitos casos, perdido o interesse em ouvir dos mais velhos os conteúdos (muitas vezes míticos) de suas próprias culturas. Sem essa interlocução não resta espaço mais para a crença, pois a crença parece ter sido substituída por outras crenças, como as do estilo de vida da capital, ou mesmo outras crenças religiosas como o cristianismo. O logos, ao contrário, não necessita de que alguém acredite para enfim validá-lo, basta que se compreenda racionalmente o que foi exposto. Entender que 1+1=2 ou que "dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço" não requer crença e sim entendimento racional. O logos se dá ao tentar explicar acontecimentos naturais de forma racional.
Physis
Significa natureza, mas não qualquer natureza e sim a totalidade que opera a partir de princípios ordenados. Se há ordem na natureza e se eu tenho a capacidade de pensar racionalmente (logos) , isso significa que podemos enfim compreender como as coisas funcionam no mundo natural.
A disciplina física constantemente traduz matematicamente os eventos que compõem a natureza, como se ela estive à nossa disposição para ser compreendida e também traduzida a partir de conceitos universais, ou seja, válidos de forma abrangente e não limitada.
Arché (ἀρχή; origem),
É o princípio de todas as coisas, substância primordial responsável pela geração de tudo que existe dentro e fora de nós. Ao observar, pesquisar e buscar compreender a Physis, os primeiros filósofos (cientistas) entenderam que o mundo possui uma lógica que pode ser captada e compreendida pela razão, isso os levou à causalidade, ou seja, a ideia de que cada coisa que existe possui uma causa que lhe é anterior. Logo, se A então B, se B então C e assim por diante. Contudo eis que surgiu a seguinte pergunta: e quem criou A ? Se cada coisa criada tem, um passo atrás, algo que o criou, logo isso ou vai parar no infinito (que seria Deus) ou irá parar em um elemento natural (portanto material) a partir do qual tudo se gerou, Este elemento primordial foi chamado à épca de arché. Assim, ao se compreender a arché, teríamos um maior entendimento sobre o mundo de um modo geral. Houve aqui, segundo alguns pesquisadores desse momento da filosofia, uma separação entre filósofos, de modo que alguns retomaram à linguagem do Mythos por entenderem que a arché é de origem divina, e outros que se mantiveram no Logos, por entenderem que o princípio de tudo era algo não fora da natureza, mas pertencente à ela.
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