domingo, 24 de julho de 2016

3º ano :: 3º bim :: aula 2 e 3 (texto de leitura)



Segue abaixo o parte do texto  de Igor de Melo sobre pós-modernidade e relacionamentos que será lida e discutida em sala de aula. Se o aluno tiver interesse no texto completo, segue logo abaixo o link de acesso:



A Liquidez do Relacionar na Pós-Modernidade
por Igor de Melo
 1. Introdução
A sociedade pós-moderna, fundamentada no consumismo e no capitalismo, marcada pela invenção, modernidade, rapidez e oferta, tem nos dado possibilidades enormes de qualidade de vida. Os avanços tecnológicos têm auxiliado nossa sociedade em curas, descobertas, laser e entretenimento como nunca se pode imaginar, temos mudanças nas Leis, mudanças e avanços nos direitos, na liberdade, no ser. Mas uma coisa também tem se modificado com mesma rapidez: o relacionar-se. Afinal, onde estão as famílias unidas, passeando, comendo e se divertindo? Onde estão os casais apaixonados, planejando um futuro "até que a morte os separe"? Onde estão os os jantares de família, a vida calma, unida ao redor da mesa? Onde estão os jovens, sonhadores de encontrar seu amor, construir uma família e serem felizes? Cabe ainda na rapidez do mundo a palavra "eternamente"? Afinal, onde estamos todos nós? No virtual. Esta é a resposta mais assustadora e clara que podemos ver a cada vez que nos propusermos a enxergar o que se passa a nossa volta.


Zigmunt Bauman, sociólogo moderno, discorre a respeito em seu livro "Amor líquido", mostrando a fluidez e a liquidez do relacionamento pós-moderno. Das dificuldades do relacionar-se e das frustrações da falta do mesmo. Os caminhos da modernidade tem mudado o panorama do século passado de maneira assustadora, e com consequências duras para o tratamento interpessoal.
Sigmund Freud, fundador da psicanálise, escreveu em seu livro "mal-estar da civilização" sobre os impulsos agressivos e narcísicos que impulsionam o homem moderno, e que o angustia. Seus conceitos de Prazer, a busca do homem por ele, e suas consequências na mente humana. Enfim, somos uma sociedade em profundas mudanças e avanços tecnológicos, mas que estamos desaprendendo algo básico: o relacionar, conviver, o amar e o expressar.

2. Uma Sociedade Pós-Moderna
Com a chegada do século XX vieram muitas transformações, e em todas as áreas, em especial de uma sociedade de produção para uma sociedade de consumo e a fragmentação da vida humana. No início de século passado, ao nascer, o sujeito encontrava uma sociedade pronta, baseada em seus costumes e tradições, se deparava com um caminho pronto a percorrer, e com uma identidade formada. Bem diferente deste século, onde é necessário formar sua própria identidade e redefini-la constantemente, pois ela é modificada também todo momento.
O que antes era possível falar em projeto de vida, visto que estávamos numa sociedade de poucas mudanças substanciosas, hoje é quase impensável. Projeto de vida consistia em caminhar passo a passo a um rumo pré-determinado, fincando pés seguros, em rastros deixados especialmente por nossos antepassados. Não somente sabia-se aonde ir como também que lá se chegaria, como num fluxo calmo e determinado.
Como falar nos dias de hoje em projeto de vida, se tudo muda tão rápido e inesperadamente? O jovem ri da própria palavra “para sempre” que parece estar destinada aos contos de fada, e exatamente por isso, tornam-se enfadonhos e irreais. Os mesmos contos já estão sendo rescritos de maneira a mostrar que a vida moderna não nos permite pensar num para sempre, e sim no momento atual, e vive-lo como se não fosse haver o amanha. Mas, será mesmo que não haverá o amanha? Ou somente vivemos como se não houvesse, dando liberdade aos desejos mais descabidos e presos de nosso ego? Como pode o superego reger se as próprias normas que antes acreditou como verdade, são agora momentâneas? Será que permanecem como uma regra interna a ser seguida, ou já se pode falar em ridicularizarão do ego sobre o superego?
A identidade que até o século passado era pré-estabelecida, como forma tranquila a ser investida, seguida, adquirida e possuída, hoje é algo que se constrói a cada momento e se desconstrói rapidamente. Em muitos casos vemos que a identidade já esta sendo construída para cada situação. Identidade que nem mesmo vem determinada nas fundações que a criança deveria achar, como por exemplo, a ideia de cidadania e patriotismo, um pouco destruída pela globalização, sendo todos, povos de uma mesma nação. Não desejamos aqui, levantar ideias da globalização e seu infinito bem, mas que a identidade, vivida numa globalização consumista, fez perder a identidade primária, que a criança já costuma encontrar como seu fundamento.
Identidade fundada em valores eram herdadas, e hoje precisam ser construídas e redefinidas ao longo da vida, desculpadas pela moderna ideia de que cada um tem o direito sobre si mesmo, e com desculpas de que devemos respeito a individualidade, não recebemos mais uma identidade, valorada e constituída. São frases como: “ele quem irá decidir quando crescer”, tão cheias de direitos e respeitos pessoais, que podem estar vazias, sem qualquer apoio para a criança fincar seus pés nos primeiros passos da vida. Não herdam nada, e aprendem que a vida vai se construindo, não importando o amanhã, e que cada passo deve ser dado se seu prazer estiver ali. Atinge aqui o cerne dos relacionamentos interpessoais, que vão seguir o mesmo comportamento, tornando-se efêmero, e reduzido a busca de seu prazer, e este momentâneo, como tudo ao seu redor.
Guiados pelo prazer, sem regras para conduzi-lo, a criança se vê mais perdida que segura, moldando sua personalidade em passos vazios. E podemos fazer tudo que desejamos, tudo que achamos ser bom pra cada um de nós? Todos os prazeres e atrativos da modernidade capitalista podem ser usufruídos? Se não podemos, como ficamos diante deste “não” que nosso ego não aprendeu que existe? Mas o que o mundo oferece muda rapidamente, e mudamos também nós nossos desejos? Mudando assim rapidamente, como saber o que eu gosto? Então gosto de tudo porque posso tudo? Enfim, quem sou eu?
Das mudanças do totalitarismo para a democracia foi apenas um vislumbre das mudanças que iriam ocorrer continuamente na sociedade. O que não podemos definir é se são estas mudanças que estamos vivendo apenas os meios transmissores para uma nova forma de vida, um período de transição, ou se já estamos vivendo esta nova ordem social.
Bauman irá dizer que duas coisas são irreversíveis, uma é que multiplicamos as conexões, as relações, as interdependências, as comunicações. Estamos numa posição em que todos dependemos de todos, tudo que acontece no mundo, tem sua importância na perspectiva da vida, caminhando para um único país. Outra questão é que há 300 anos assumimos a gestão da natureza humana, fazendo dela obediente as necessidades dos homens. Tentando assim o controle total do mundo. Agora, estamos chegando e entendendo que estamos no limite da suportabilidade do planeta. Os perigos deste futuro estão na separação do poder e da política. Se assim for, o Estado não terá suficiente poder de manter as promessas e ideias construídas pelos cidadãos no século passado. Pois estamos numa época de queda da democracia, onde cada vez menos pessoas acreditam nela. Por quê? Por que o Estado pode oferecer cada vez menos aos cidadãos. Estas ideias fazem com que comecemos a entender a necessidade de talvez um Estado global. E isso porque o fundo de tudo é que buscamos segurança e liberdade.


3. A Fragilidade dos Laços Modernos

Quantas vezes temos escutado "estou apaixonado" e da mesma pessoa, em pouco tempo: "acabou"? E facilmente escutamos, da mesma, que ela voltou a se apaixonar? Com certeza muitas vezes e de quase todos que conhecemos (inclusive de nós mesmos). Podemos perceber que esta condição é facilmente repetida, recorrente. E muitas vezes chamamos de amor, situações repetidas de envolvimento, mesmo que seja de apenas 1 dia.
A mudança da sociedade nos fez de fato desvalorizar por completo a sentença "até que a morte nos separe". Assim, baixamos os padrões deste sentimento, podendo chamar de amor qualquer experiência de envolvimento. Experiência intensa e impactante, porém de curta duração. Sendo o amor uma ideia de eterno, duração perpétua, a habilidade de experimentar muitos amores poderia ser vista como incapacidade de amar.
Bauman vai nos lembrar em seu livro "amor líquido" do diálogo da profetisa Diotima, no banquete de Platão. Ela diz: "o amor não se dirige ao belo, dirige-se à geração e ao nascimento no belo”. Amar é querer “gerar e procriar”, e assim o amante “busca e se ocupa em encontrar a coisa bela na qual possa gerar”. O amor é um impulso criativo, ao movimento de gerar, fazer, criar. E por se tratar de duas pessoas, está marcado pela eventualidade e assim, pelo mistério. Mistério do encontro, pelo destino, pelo sublime, que vem da conquista, do ganhar, do prazer da vitória.
Aqui conflitamos nossa sociedade capitalista com a eternidade do amor. Sociedade consumista, dos produtos prontos, descartáveis, satisfação instantânea, prazer rápido, garantias, seguros e devolução. Caímos aqui no comportamento aprendido do mundo pós-moderno, capitalista e consumista, e fazemos do amor, experiências passageiras, rápidas, instantâneas e descartáveis, a que estamos acostumados.
A descartabilidade das ações da modernidade recairá nas ações do relacionamento interpessoal. Se aprendemos a descartar, usar tudo para satisfação de nosso prazer, aprendemos a ter este comportamento quanto a tudo, e também quanto aos outros, em nossos relacionamentos.

E podemos aqui nos perguntar, se temos tanta consciência do uso que fazemos do outro na busca de nosso prazer, porque ainda buscamos relacionamentos? Porque a instituição do casamento ainda é procurada, desejada e sonhada? O sonho aqui é fonte de grande parte do desejo do homem, e falando em sonho, estamos falando na fantasia, alimentada pelo que recebemos como certo a fazer ou como resquícios de um projeto de vida, com o qual nosso superego foi construído.

É a ideia da construção familiar de que fomos fruto, que muitas vezes nos dá, sem mesmo querermos, o modelo de vida que teremos que ter. Crescer, estudar, trabalhar, casar, ter filhos. É o caminho que certamente grande parte da sociedade entende como o normal. Deste projeto de vida, de que fomos alvo e que recebemos como meta a ser realizada, é certamente a razão de grande parte da busca pelo modelo tradicional de família.
Pode-se ainda relembrar daquela eterna falta, inquietação e angústia de que somos alvo e que falávamos antes. Estar com alguém relaxa a cobrança do superego a ter alguém e também a angústia vinda do medo da solidão. Paramos aqui num medo que está presente na humanidade desde seu inicio, e que provavelmente irá continuar nos acompanhando por muito tempo. A dificuldade moderna não é em não ter esta necessidade, e sim não conseguir calar as vozes dos desejos pela busca do prazer, narcísica, e perturbadas pela fantasia, que nos leva a enganação que há sempre algo bem melhor ainda a ser experimentado.
O comprometimento e a responsabilidade com o que nos propomos, nos faz coerentes com as opções e decisões que tomamos. Isso nos faz entender que toda decisão requer uma série de renúncias, e isso é o que Freud quis dizer ao falar em maturidade, em casar e trabalhar. Estar pronto para isso, para Freud, é estar maduro para dizer não ao que a fantasia nos inquietar. Renúncia é essencial da maturidade, do entendimento que nos pertence apenas uma parte, e que não estar numa eterna busca de satisfação, em novidades, e que em parte não pertence senão ao mundo imaginário.

O imaginário está cheio de ideias de liberdade e que entra em contradição com a busca de um alguém ideal. Grande parte da sociedade vive neste conflito. Sabemos que a pessoa ideal, ou o Príncipe encantado não existe, mas sim uma pessoa certa que pode nos compreender, ser capaz de caminhar conosco, ser parte de nossa felicidade, de nossa alegria e nossa satisfação. O problema é que na lista de requisitos para a pessoa certa, os itens são absurdos, incapazes de serem preenchidos, permitindo assim ao Id sua busca perpétua de novidades e prazer e ao Superego a satisfação de que sim, buscamos a família perfeita, conforme quiseram nossos pais.

Poderíamos falar aqui em enganar nosso ego, dando livres asas ao id, mas sabemos a que preço temos pago. A angústia e insatisfação geradas desta busca são de grande prejuízo. O descontentamento e infelicidade desta geração estão claramente vistos. Se algo se quebrou, joga-se fora, e compra-se outro. Se um problema veio, findamos um relacionamento e partimos para a busca de outro. Falamos em terminar algo quando foi iniciado, mas que nos dias de hoje, segundo pesquisas, nem mesmo 30% dos encontros passam no primeiro dia ou do primeiro sexo.

É que no mercado capitalista todo dia temos novidades e estas nos envolvem, nos estimulam, nos prendem. No relacionamento, todo dia é dia que alguém novo, novas experiências, afinal, com quem estamos hoje não estamos 100% feliz… não foram satisfeitos 100% da lista de exigências da pessoa ideal. É a segurança do amor eterno com a liberdade do pássaro que voa rapidamente em diferentes pombais, que consiste a grande guerra travada neste século. A oferta e a facilidade de troca, alimenta a fantasia o eterno príncipe encantado de que fomos alvo na infância, pelos contos de fadas, e que de alguma maneira ainda buscamos.

Tópicos para discussão (sugestões) e temas para construção de texto em dupla:
- A relação do conceito de “liquidez” com os relacionamentos atuais
- A crise da ideia moderna de respeito a si e ao próximo: uma crise ética ?
- O hiper individualismo pós-moderno: cada qual com seu cada qual.
-  Redes sociais: o fim do relacionamento real em prol do virtual ?
- A angústia pós-moderna: ter todos e não ter ninguém














3º ano :: 3º bim :: aula 1 : Modernidade e Pós-modernidade

Prezados, em breve irei atualizar com um texto de minha autoria falando sobre o assunto. Por enquanto irei disponibilizar o texto abaixo extraído do blog https://sociolizando.wordpress.com
que está muito bom e de fácil compreensão. Logo abaixo tem uma tabela comparativa bem interessante do dois momentos também extraída do mesmo endereço. Os créditos do texto vão para Ricardo Festi. 

Modernidade ou pós-modernidade?

Por Ricardo Festi

Nossa disciplina se coloca a tarefa de refletir a sociedade em seu movimento. De certa forma, o debate sobre a vigência ou não da modernidade será objeto de reflexão de todo nosso curso. A modernidade não é sentida apenas numa racionalização da sociedade ocidental (veja o texto logo abaixo). A modernidade introduziu uma dinâmica nova na sociedade, perceptível por todos os indivíduos que vivem nela, principalmente aqueles que estão nos lugares simbólicos desta época (a cidade, a fábrica, etc). Essa percepção também se manifestou no âmbito da arte, dos sentimentos, das formas de relacionamento, etc. Se é verdade que estamos vivendo uma transformação tão profunda da sociedade ao ponto de superarmos a modernidade, então isso implica dizer que todas as esferas da vida social estão mudando: não apenas as instituições sociais, mas também a forma de sentir (como o amor), a forma de fazer política, etc. O texto abaixo aborda de outra maneira a definição do conceito Modernidade e também apresenta um importante debate que está ocorrendo no seio das ciências humanas sobre a superação ou não desta época. Alguns autores afirmam que nossa sociedade ocidental, por ter passado por profundas transformações sociais e políticas nos últimos anos, teria superado a modernidade e ingressado num mundo “pós-moderno”. Outros, discordando destes, vêem nestas mudanças mais uma manifestação da modernidade, seu aspecto transitório e de permanente transformação. É importante que você compreenda este debate, pois ele é atualíssimo e ganhou novos argumentos depois que o mundo foi sacudido pela crise econômica iniciada em setembro de 2008. Reflita sobre o tema e traga os seus argumentos para o debate em sala de aula.

Texto Complementar de John Scott 
(Sociologia: conceitos-chave)
Em seu sentido original e mais generalizado, “moderno” significa algo contemporâneo, atual, de hoje. A palavra estabelece um contraste entre músicas, vestuário, arquitetura, atitudes e padrões sociais dos tempos atuais e mais recentes e os do passado mais remoto. Em sociologia, ela é usada dessa forma quando se refere à teoria social moderna, em contraste com a teoria “clássica”, mais antiga. É também usada para contrastar a fase moderna de um país – sua sociedade atual – com períodos anteriores de sua história.
Os primeiros autores que escreveram sobre a modernidade – a condição social moderna – opuseram as sociedades comerciais e nacionais emergentes da Europa do século XVII às estruturas decadentes do feudalismo e a todas as outras formas de sociedade tradicional. A palavra “moderno” foi usada para descrever as condições sociais específicas da Europa pós-medieval.
A sociedade moderna, nascida antes do século XVII, era vista como uma nova época histórica que iria se desenvolver e perdurar por algum tempo. A modernidade, então, foi associada às instituições sociais específicas dessa sociedade pós-medieval. Tais instituições eram caracterizadas por uma ênfase intensa e progressiva em considerações puramente racionais e num correspondente declínio da tradição e tradicionalismo. A condição social moderna encerra um modo de vida racionalmente organizado, em que as ações sociais assumem a forma de técnicas ou estratégias que se utilizam dos meios mais adequados e precisos para perseguir objetivos. As principais formas de ação racional encontradas nas instituições do Estado-nação e do industrialismo capitalista, e em suas práticas políticas e econômicas, passam a dominar e moldar todas as outras áreas da vida social. Os teóricos sociais, especialmente os do período formativo da sociologia, tendiam a ver o crescimento das formas racionais de ação como uma tendência de longo prazo nas sociedade modernas. Eles apresentaram a racionalização do mundo como algo inelutável, e em geral se presumia que todas as sociedades seguiriam um caminho evolutivo semelhante de modernização que as levaria a adotar as mesmas instituições modernas surgidas na Europa Ocidental. As instituições sociais que se solidificaram no Ocidente no final do século XIX são as seguintes: Estados-nação centralizadas e intervencionistas, mercados monopolizados, grandes empresas produtivas e financeiras, sistemas de produção em massa, consumo de massa, movimento e assentamento de massas por meio de transporte e formas urbanas, comunicação e cultura de massas.
(…)
Recentemente, teóricos sociais questionaram o caráter inevitável da modernidade e sugeriram que até instituições sociais modernas são passíveis de mudança. Eles sustentam que se a escala dessa mudança for grande, então descrevê-las como modernas pode não fazer mais sentido. Insinuou-se que a segunda metade do século XX pode, na verdade, ter assistido a tal mudança e que o mundo ocidental ingressou numa nova condição “pós-moderna”. Esses teóricos afirmam que mudanças culturais fundamentais extinguiram a racionalidade do Iluminismo e interromperam o processo de racionalização, dando início a grandes transformações sociais (…).
Os pós-modernistas sustentam que não era possível estabelecer alicerces para a certeza intelectual. Não poderia haver “totalidade”, “grande narrativa” ou “quadro maior” que explicasse o mundo, que tinha de ser aceito como caótico e efêmero.
Esses argumentos influenciaram as teorias de autores como Jacques Derrida, Michel Foucault e Jean Baudrillard, que se concentraram na relatividade dos valores e das ideias (…). O crescimento da pós-modernidade foi identificado em aspectos tais como o enfraquecimento dos Estados-nação, a desorganização e fragmentação das economias nacionais, a crescente importância dos fluxos de informação e conhecimento, o aumento do risco, da incerteza e da ansiedade, a grande expansão do consumismo e da cultura popular na vida cotidiana, e a extensão e interconexão globais das atividades humanas. Tais argumentos apontam para mudanças sociais cruciais nas estruturas das sociedades contemporâneas, embora muitas dessas mudanças possam ser vistas como formas aprofundadas e intensificadas de instituições sociais modernas. Tais instituições foram continuamente transformadas desde que apareceram pela primeira vez. A afirmação de que atingimos o fim da modernidade permanece altamente contestável.



2º ano :: 3º bim :: aula 1:: A política em Aristóteles

Encontramos no capítulo 3 de A Teoria das Formas de Governo a visão de Aristóteles, em seu livro Política, acerca das diferentes formas de governo. Sua visão não é muito diferente da de seu mestre Platão, ou das outras teorias vistas até então. Aristóteles classifica as formas de governo em: Monarquia, Aristocracia e Politia (polítea). As degenerações destas formas de governo dão origem a outras três: Tirania, Oligarquia e democracia.

O modo de identificar as formas de governo, por Aristóteles, é bem simples como nos mostra Bobbio:

“Fica bem claro que essa tipologia deriva do emprego simultâneo dos dois critérios fundamentais – ‘quem’ governa e ‘como’ governa”. (Cap. III, pág.56)

Sendo assim, se o poder do Estado pertence a uma pessoa temos a monarquia, poucas pessoas a aristocracia e muitas a politia – todas elas formas boas de governo. O pensamento de Aristóteles vai de encontro com o de Platão em relação à Democracia que, ao contrário das outras formas de governo, não possui outro termo para designar sua forma boa e má – pois para Platão ela era a melhor das piores e a pior das melhores. Já que para Aristóteles ela era má.

A ordem hierárquica das formas de governo, na visão de Aristóteles, segue o critério de Platão – a forma pior é a degeneração da forma melhor – nessa ordem:

monarquia, aristocracia, politia, democracia, oligarquia e tirania.

Segundo Bobbio, o critério de classificação entre formas boas e más usado por Aristóteles é o
seguinte:

“As formas boas são aquelas em que os governantes visam ao
interesse comum; más são aquelas em que os governantes têm em
vista ao interesse próprio.” (Cap. III, pág. 58)

Com relação ao poder, Aristóteles apresenta três definições: o poder de pai sobre o filho, o senhor sobre o escravo, do governante sobre o governado. Elas se  distinguem entre si com base no tipo de interesse: o paterno, no interesse do filho; o  político, no interesse comum de governantes e governados. Aristóteles justifica a escravidão por considerar que há homens e povos escravos por natureza.

Aristóteles estuda mais a fundo a monarquia dividindo-a em monarquia do tempo heróico – hereditária, baseando-se no consentimento dos súditos; de Esparta – em que o poder supremo se identificava com o poder militar, tendo duração perpétua; tiranos eletivos – bem como os chefes supremos de uma cidade eleitos por certo período, ou em caráter vitalício, no caso de choques graves entre facções opostas; monarquia despótica – poder é exercido tiranicamente, contudo, legitimo, porque é aceito ao contrário da tirania em que os tiranos governam cidadãos descontentes sem serem aceitos por eles.

Para Aristóteles aristocracia (governo sábio) e democracia não eram governos de poucos e de muitos, mas sim de elite e pobres – o fato de poucos serem ricos e muitos serem pobres geram essa confusão.

A politia (ou polítea)  é uma fusão de aristocracia e democracia, ou seja, é um regime em
que há a união de ricos e pobres. Essa união deveria aliviar a tensão entre esses dos grupos e assegurar a paz social, o que torna a politia uma forma boa, pois assim se alcançaria a estabilidade do governo. 

Isso mostra a teoria de Aristóteles que acreditava que de duas más formas de governo poderia surgir uma boa forma de governo. Essa visão de mistura das más formas de governo para se obter uma forma boa é, como diz Bobbio, “um dos grandes temas do pensamento político ocidental, que chega até nossos dias”.


O Bem comum
O que torna um político - governante bom ou mal é justamente aquilo que ele prioriza. Se o político - governante prioriza o conceito de "bem comum", ou seja, prioriza aquilo que é público e que se estende ao maior número de pessoas, então este está no caminho certo, mesmo que por ventura erre am algum momento. O erro não o conduz à condição de mau político, o que o conduz é justamente um outro tipo de prioridade, uma prioridade voltada para si ou para seu grupo. Significa que seus interesses pessoais estão acima do povo.